sexta-feira, 9 de julho de 2010

TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA PARA INICIANTES (PARTE V)

A TEOLOGIA LIBERAL II

Ritschl catedrático de teologia em Göttingen desde 1865. Seguiu nos passos de Schleiermacher, procurou extrair a essência do cristianismo da experiência cristã. Mas ao passo que Scheiermacher pensava que a tinha achado num senso de dependência absoluta, Ritschl acreditava que tinha descoberto no âmbito da moralidade. A vocação de Jesus fora fundar o reino de Deus entre o homem e, portanto, ser o portador da soberania ética de Deus sobre os homens. Sua morte, segundo Ritschl, nada tinha a ver com a expiação pelo pecado. Era o teste supremo da vocação de Cristo. Fez uma distinção entre julgamento de fato e julgamento de valor. O cientista faz julgamento de fato com base nas suas observações exatas, que pode testar pela experiência controlada. Na religião, porém, não podemos fazer experiências controladas com Deus e com aquilo que aconteceu no passado. Declarações religiosas são julgamentos de valor.

O homem que mais fez para desacreditar o Jesus moralista dos liberais do séc. XIX foi Albert Scheweitzer (1875-1965). Argumentava que o Jesus liberal histórico poderia ser construído somente a expensas de desconsiderar a escatologia, o ensino evangélico ser acerca da vinda do reino e do fim daquela era que se aproximava. Os liberais tinham se apegado ao ensino moral de Jesus e fechado suas mentes ao ensino sobre a vinda do reino. Jesus, segundo o argumento de Schweitzer, esperava que o reino viesse dentro em breve. Quando viesse, Ele seria revelado como o Filho do Homem Messiânico. Tendo isto em vista, Jesus enviou seus discípulos numa missão preparatória. Nem sequer mudou seus planos. A totalidade do ensino moral de Jesus era uma ética interina, que não visava definir princípios para todos os tempos, mas, sim, simplesmente visava preencher a lacuna até que o reino fosse finalmente estabelecido. Mas o plano inteiro falhou, e o resultado líquido foi a morte de Jesus. Jesus aparece como um político religioso fanático que foi errando seu caminho pela vida afora. Se Schweitzer tiver razão, então Jesus estava enganado. O que Schweitzer fez foi substituir uma criação racionalista por outra. Schweitzer está de acordo com Strauss e Renan ao eliminar da história a parte sobrenatural. O próprio Schweitzer passou a estudar medicina e foi como missionário para Lambaréné na África Equatorial Francesa. Mas não era um missionário comum. Embora Cristo entrasse no seu ensino, seu tema central era o respeito para com a vida.

Lado a lado com as muitas tentativas feitas nos séc. XIX no sentido de reconstruir a vida de Jesus em linhas modernas havia as tentativas igualmente numerosas para investigar os escritos bíblicos. Uma das reconstruções mais notórias do Novo Testamento foi aquela da assim chamada, da Escola de Tubingen com seu fundador F.C.Baur (1792-1860). Baur via a história da igreja primitiva como a concretização de uma luta entre dois partidos rivais. De um lado, havia o partido dos cristãos judaicos, liderados por Pedro. E do outro lado, havia Paulo, que representava um tipo mais novo e amplo de cristianismo, profundamente influenciado pelo mundo grego, que rejeitava a praxe judaica da circuncisão e a interpretação mais estreita da lei. Usando esta base, Baur passou a avaliar os livros do Novo Testamento. Aceitaria como genuínas somente aquelas cartas de Paulo que demonstravam sinais de conflito com os judaizantes. Sua lista apenas chegou a quatro: Gálatas, 1 e 2 Coríntios, e Romanos. Mateus, sustentava, era o Evangelho mais antigo porque lhe parecia o mais judaico. João era o último deles, porque revelava poucos sinais do conflito, o que supostamente significa que já foram emendadas as diferenças. Baur até mesmo detectava em João sinais das controvérsias gnósticas e montanistas do séc.II, naturalmente, segundo estas premissas, o Quarto Evangelho tinha pouco valor histórico. Antes de Baur, tinha sido sugerido às vezes que os Evangelhos, conforme agora os temos, são os resultados de tradições orais independentes acerca de Jesus, que foram registradas por escrito. Neste meio tempo, no entanto, os estudiosos começaram a acalentar seriamente a idéia de que as estreitas semelhanças entre Mateus, Marcos e Lucas pudessem ser melhor explicadas se eles fossem dalguma maneira dependentes uns dos outros.

A teoria de Karl Lachmann, da prioridade de Marcos, e da dependência a ele de Mateus e Lucas, é talvez a única teoria da crítica dos Evangelhos no séc. XIX que ainda é geralmente aceita ainda hoje. Mas foi somente depois de 1860 que se estabeleceu como ortodoxia crítica. Seu sucesso deve ser em grande medida a H. J. Holtzmann, que acrescentou numerosos refinamentos, sendo o não menos importante a hipótese Q (uma alegada coletânea de ditos de Jesus que Marcos não usou, pois relata muito pouco do ensino de Jesus, mas que foi usada de modo diferente por Mateus e Lucas).

Importante: O texto acima, como os demais sobre Teologia Contemporânea, está baseado na obra do Dr. Abraão de Almeida.

Maranta. Ora vem Senhor Jesus!
Deus abençoe a todos.

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