sábado, 16 de maio de 2009

O QUE É TEORIA DA LACUNA?




“No princípio, criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn. 1.1,2). A.R.C


Devido às últimas descobertas arqueológicas e o crescente interesse pela ciência nas últimas décadas, vem ganhando força em nosso meio e nos círculos teológicos, a chamada Teoria da Lacuna. Essa teoria foi defendida em 1876 por C. H. Pember em sua obra As Idades Mais Remotas da Terra e a Conexão delas com o Espiritualismo Moderno e a Teosofia. Outro defensor foi o Dr. Artur Custance, autor do livro Sem Forma e Vazia. Chambers a tornou popular utilizando-se das notas da Bíblia de Referência Scofield (1917). No Brasil, tornou-se conhecida através da obra de N. Lawrence Olson, O Plano Divino Através dos Séculos.

Também conhecida como Teoria do Caos, Teoria do Intervalo ou Teoria da Ruína-Restauração, representa uma aproximação entre criacionismo bíblico, darwinismo, cosmogonias (mitologia) e cosmologias modernas. É contestada por boa parte dos estudiosos em teologia pelo fato de tentar harmonizar a revelação da criação com as descobertas de outra teoria: a da evolução – embora Pember não fosse um evolucionista. Penso que, embora a Bíblia não seja um livro científico, mas religioso, não devemos temer a ciência, contudo, onde a ciência tentar sobrepor-se às Escrituras, devemos ficar com a Revelação, posto que a Revelação é a maior das ciências. Não é por menos que a teoria em discussão seja contestada pelos teólogos, visto que está repleta de erros, bíblica e teologicamente falando. Os defensores da teoria da ruína-restauração ensinam acerca de um pré-mundo habitado pelos anjos e por uma raça pré-adâmica, que esses teriam se rebelado com satanás e por isso teriam recebido o juízo de Deus através de uma grande inundação, conhecida como "o dilúvio de lúcifer" - onde raça pré-adâmica, leia-se homens pré-históricos e era dos dinossauros. Como se não bastasse, ainda tentam explicar a origem dos demônios, como uma classe diferente dos anjos, ao afirmarem que a raça anterior a Adão seria os espíritos desincorporados dos homens que se uniram à rebelião luciferiana. Todos sabem que a teoria da evolução é uma visão naturalista que pretende excluir a idéia de um Deus Criador Pessoal, explicando a origem de todas as coisas através de acontecimentos que teriam levado bilhões de anos. Ou seja, para eles as coisas aconteceram naturalmente. Muitos cristãos, mesmo alguns fundamentalistas, se deixaram levar por essa associação equivocada entre criação e evolução para defenderem a proposta de que Deus apenas teria dado o toque inicial e daí em diante passou a ser um supervisor da ordem evolutiva – isso mais parece deísmo. Mas a Bíblia afirma em Gn. 1.1: “No Princípio Criou Deus os Céus e a Terra” e os versículos seguintes mostram Deus como o sujeito em toda a obra criadora do universo.

De acordo com os defensores dessa teoria, a terra teria sido criada perfeita para ser habitada, mas devido ao juízo de Deus sobre a civilização anterior a Adão, o mundo veio a se tornar caótico e desabitado. Então, dizem eles, isso explica o fato de haver desordem e caos em Gn. 1.2. Todavia, o texto de Gênesis está nos ensinando que Deus criou todas as coisas e que o escritor está fazendo alusão ao primeiro estado da matéria. Se “bara” (verbo criar no hebraico) e “kitzo” (no grego) estão associados aos atos criativos de Deus ou ao que somente Deus pode fazer, visto que são ações impossíveis aos agentes humanos (Gn. 1.21, 27; 2.3,4; Dt. 4.32; Jó 38.7; Sl.51.10; Is. 40.26, 28; 42.5), temos por outro lado no latim a expressão creatio ex nihilo que, igualmente, nos conduz à noção do criado a partir do nada. Não é demais lembrarmos aqui as palavras do autor do livro aos Hebreus: “Pela fé entendemos que os mundos pela Palavra de Deus foram criados, de modo que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente” (Hb. 11.3). Portanto, o mundo foi criado pela Palavra a partir do nada e Deus não se valeu de matéria pré-existente ou modelos anteriores, nem mesmo no mundo espiritual como pretendem alguns, mas a Bíblia revela que a primeira matéria era informe e que o Espírito de Deus movia-se sobre a matéria recém-criada dando forma ao informe, enchimento ao vazio e ordenando o caótico.

Os “lacunistas” dizem que a expressão de Gn. 1.2 contendo “waw”, que corresponde à nossa conjunção “e”, permite a mudança do verbo do perfeito para o imperfeito. Assim, “era” pode ser traduzido por “tornou-se” ou “veio a ser” – alguns estudiosos do hebraico negam essa possibilidade, entre eles, Frederick Ross e Bernard Northrup, mas outros afirmam positivamente. Citam ainda, os defensores da teoria do caos, Is. 45.18 “... o Deus que formou a terra e a fez; ele a estabeleceu, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada...”. Para mostrarem que a terra foi habitada anteriormente, apresentam citação isolada, tirada de seu contexto e, portanto, nada podem provar. O contexto aponta para a devastação da terra na região onde Ciro ampliava suas conquistas(1) e os teóricos da matéria em questão intencionalmente esquecem ou evitam o que está escrito no versículo 12a: “Eu fiz a terra e criei nela o homem”. Igualmente, a gramática da língua hebraica não permite, nessa estrutura frasal, que haja intervalo algum entre essas expressões do capítulo primeiro de Genesis.

Ora, a suma do que se pretende dizer é que a terra em seu estado primeiro, a primeira substância, era sem forma (heb. “bohu”) e vazia (heb. “wabohu”), e isso dá uma dimensão da obra criadora de um Deus Pessoal, que tem intelecto, sentimento e vontade, e por isso ordenou todas as coisas com inteligência, beleza e amor. Outro fator importante no relato da criação é a posição do escritor do Gênesis em sua confrontação com as narrativas existentes, negando as concepções mitológicas de seu tempo ou anteriores a ele. A Bíblia revela que houve um princípio, quando a matéria era ainda um caos, e o Deus Criador, por sua Palavra deu forma ao informe e encheu o vazio de vida e beleza, ordenando todas as coisas em seu lugar e estabelecendo leis perpétuas. Uma das definições que encontramos de Deus é: "Deus é Espírito Pessoal, perfeitamente bom, que, em santo amor, cria, sustenta e dirige tudo"(2). O adorno do Espírito Santo qual ave-mãe chocando um ovo (essa é a idéia no original) diz muito acerca do labor afetivo da Trindade para criar o universo e o homem.

(1) Ridderbos, J. - Isaías, Introdução e Comentário, p. 378.
(2) Langston, B. - Esboço em Teologia Sistemática, p. 33.

Fontes:
Derek Kidner - Genesis Intr. e Comentário.
Esdras Bento - Teologia e Graça.
Rev. Walter Lang - Criacionism.org

sexta-feira, 8 de maio de 2009

COMPARAÇÕES DA UNIÃO - SALMO 133


Texto: 1 OH! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. 2 É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. 3 Como o orvalho de Hermom, que desce sobre os montes de Sião, porque ali o SENHOR ordena a bênção e a vida para sempre (Salmo 133).

Introdução: O Salmo 133 faz parte dos salmos dos peregrinos ou dos salmos de romagem, também conhecidos como Cânticos dos Degraus. Os salmos que se enquadram nesse grupo vão do número 120 até o salmo de número 134. Aprendemos com os peregrinos, entre outras coisas, que o culto não começa no templo. De igual modo o culto cristão não começa dentro das quatro paredes. Para alguns o culto começa quando os hinos congregacionais são entoados pela Igreja, para outros quando toca o seu instrumento ou quando o pregador começa a explanar a Palavra de Deus, mas o verdadeiro culto tem sua origem no nosso coração quando nos predispomos a irmos à casa de Deus. O anelo do coração de Deus é expresso pelo salmista no salmo 133, e este anelo é a doce e boa comunhão entre os irmãos da Igreja, não importando raça, origem ou classe social. A Bíblia nos diz que somos todos um na pessoa de Cristo.
O salmista compara a união dos irmãos a três coisas:

I - Oferta Agradável - No livro de Levíticos, temos uma série de tipos de ofertas que podiam ser oferecidas ao Senhor (Lv. 1-7). Uma delas era a oferta de Manjares. Na oferta de Manjares era possível se ofertar grãos na espiga ou farinha (massa) e isso mostra dois tipos de crente, o crente que sempre se considera individualmente, que é arrogante, presunçoso e orgulhoso. Este tipo de crente é comparado ao grão, uma vez que preserva suas características naturais, mas é necessário que o grão seja moído para que haja farinha e seja deitado à farinha o óleo para que se possa fazer o bolo. Em Gl 3.28 a Bíblia nos diz: “Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”, é necessário que deixemos as diferenças e, moídos, formemos uma só massa, para que o Espírito nos una com o óleo precioso e nos transforme em oferta agradável e de cheiro suave! (Rm 12,1,2).

II - Óleo Precioso (Unção) - O Salmista também compara a comunhão e a união dos irmãos como o óleo precioso que desce sobre a barba de Arão. Arão foi confirmado pelo Senhor como sacerdote do povo, quando Deus fez a vara florescer e dar frutos. Em Nm 17, a Bíblia nos conta como a vara de Arão floresceu e deu frutos. A vara que floresceu é um tipo de Jesus Cristo, que viveu, morreu, mas ressuscitou ao terceiro dia! Buda, Confúcio e todos os demais líderes de outras religiões morreram, mas somente Jesus ressuscitou e está vivo, exaltado à destra de Deus. Somente Ele floresceu e deu frutos! Deus deu ordem a Moisés para que se fizesse um óleo para que ungisse a todos os sacerdotes. Este óleo era tão precioso que ninguém podia fabricá-lo para o seu uso pessoal ou comercializá-lo. Não podia ser banalizado, pois, era símbolo da unção do Espírito Santo em nossas vidas. A Bíblia fala que o óleo era derramado sobre a cabeça de Arão e descia por todo o corpo até as orlas dos vestidos, ou seja, isso nos remete a Cristo que é a cabeça da Igreja. A unção foi abundante (Jo.3.34). Deus ungiu a Jesus com seu Santo Espírito e por conseqüência também fomos ungidos! (Is.61.1; Lc. 4.18;At.10.38 e Is.9.6).

III - O Orvalho do Hermom - O Monte Hermom é o Monte mais alto da Palestina, com cerca de 2.800m acima do nível do mar. Também Jesus recebeu um nome que está acima de todos os noemes (Fp. 2.9). No topo do monte há sempre uma coroa de neve que alimenta as nascentes do Rio Jordão e Ap.1.14 diz que Jesus glorificado tem sua cabeça e cabelos brancos como a neve. No verão, que vai de Abril a Outubro, o vento norte sopra (Ct. 4.16; Ez.37.9; Jo.20.22 e At.2.1,2) sobre o monte fazendo cair o orvalho sobre os montes de Sião, regando toda aquela região e trazendo renovo diário de vida. Ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre. Assim é a união dos irmãos!

Conclusão: A união do povo de Deus é comparada a uma oferta agradável de cheiro suave. Que cheiro tem a sua oferta? (Jo. 12.3). O óleo precioso é um tipo da unção do Espírito que veio sobre Jesus, o Cabeça, e o transbordar sobre o seu corpo, a Igreja (Is.9.6). Somente Ele tem a tríplice unção: Profeta, Rei e Sacerdote e a deu à Igreja. O orvalho de Hermom fala de renovo, reverdecimento, restauração, doação de vida e ordenação de bênçãos. Se sua vida está seca, o orvalho do Senhor vai reverdecê-la e trazer bênçãos dos céus!