quinta-feira, 29 de julho de 2010

MISSÃO DA IGREJA E TURISMO CRISTÃO


"Saíram, pois, da cidade e vieram ter com ele" (Jo. 4.30 - A.R.A).




Para além de um simples diálogo com uma mulher, a passagem do Evangelho de João capítulo quatro está recheada de cristologia, soteriologia, história do povo hebreu, geografia bíblica e missiologia como poucos textos da Bíblia. Porém, o que me chama a atenção é a indolência dos discípulos que ao irem à cidade comprar comida (v.8) não se aperceberam da carência espiritual daquele povo. Pensaram apenas em suas próprias necessidades, pois foram “comprar alimentos". Havia uma necessidade premente por salvação naquela região, havia sede não das águas da Fonte de Jacó, fome não de alimentos que se encontravam no campo, armazenados nos celeiros ou nos mercados, mas sede e fome de Deus.


Depois do diálogo, a mulher samaritana, tocada pelas palavras de Jesus, vai até a cidade e diz: "Vinde comigo, e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?! Saíram, pois, da cidade e vieram ter com ele" (v.29,30). Mais adiante o Senhor diz "erguei os vossos olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa" (v.35b). Os discípulos, no entanto, estavam presos às suas próprias necessidades e diziam ao Senhor: "Mestre, come” (v.31b), olhando para seus próprios umbigos, tendo os olhos voltados para baixo. Jesus, porém, ergue os olhos e vê uma multidão vindo ao seu encontro. Pessoas que eles deveriam ter evangelizado, quando foram fazer compras, e tê-las trazido para Cristo foram despertadas pelo testemunho da mulher. O Mestre vê a multidão e diz aos doze: “ergam os olhos, vocês dizem que há quatro meses para a ceifa, mas eu vos digo que os campos estão prontos para a ceifa”.


Os campos falam das nações, das gentes, das etnias, de cada indivíduo ao redor deles (e nosso). Eles, todavia, foram até Samaria e não perceberam tão grande necessidade porque suas prioridades eram outras. Quantas pessoas viajam o Brasil e o mundo e não sentem as necessidades das nações, pois que viajam para visitar ruínas, monumentos, catedrais, museus... Quantos vão à Nova York e não se sensibilizam com a miséria espiritual em que se encontra a nação americana; visitam Nova Orleans e não sabem que ali está uma das capitais do satanismo no mundo; visitam a Índia e não se dão conta da idolatria e de seus milhões de falsos deuses que trazem uma nação inteira debaixo de escravidão... Quantos irmãos europeus, americanos e asiáticos visitam o Brasil e levam notícias dos carnavais, das praias, dos hotéis, da comida típica, dos parques aquáticos, quando em muitos lugares vivemos em um estado de injustiça social, violência, corrupção, fome, miséria, aborto, estupro... Quantos ignoram a realidade religiosa neste país, dominado pela religião católica, tradicionalista, idolátrica, presa ao passado e a conceitos teológicos infundados como batismo infantil, infalibilidade humana (papal), transubstanciação, entre outros.


Levantemos os nossos olhos e vejamos as necessidades das almas, qual o espírito de Paulo na Atenas entregue aos ídolos (At.17), e ampliemos nossa visão para vermos os campos brancos para a ceifa na "Samaria" de nossa realidade. Ergamos os nossos olhos e vejamos a multidão que está vindo ao nosso encontro, gente comum que cruzamos nas ruas e esbarramos nos supermercados, todavia estão carregados de dor, angustiadas, aflitas, estressadas, com casamentos e lares destroçados, pais separados e filhos nas drogas, desempregados, endividados, atormentados, medrosos, inseguros, incertos da salvação, temerosos quanto ao futuro, buscando alívio nas fontes seculares, religiosas, filosóficas e naturais desse mundo. Levemos, pois água e pão a eles e os conduzamos a Cristo!

Maranata. Ora Vem Senhor Jesus!
Deus abençoe a todos.


terça-feira, 27 de julho de 2010

CONTRA O MEDO E O PRECONCEITO

"O que mais me preocupa não é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons".

(Martin Luther King Júnior)
  
Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.

(Maiakovski)

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

(Bertold Brecht)

Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar...

(Martin Niemöller)

Maranata. Ora Vem Senhor Jesus!
Deus abençoe a todos.

sábado, 17 de julho de 2010

ESCASSEZ INTELECTUAL E MERCADO EVANGELICO


É com imensa tristeza e indignação que vemos crescer a aridez do pensamento teológico no Brasil. A escassez intelectual é tal que muitas de nossas editoras (e não todas) estão publicando, leia-se, promovendo, as mais medíocres obras de escritores norte-americanos e de outras nacionalidades como se fossem verdadeiras obras-primas. Certamente os royalties são, digamos, mais em conta. Ou seja, é mais barato publicar um enlatado que está mofando nas prateleiras das livrarias e editoras de lá, porque o público aqui ainda se encanta com os sobrenomes anglo-saxões, do que investir na formação de escritores nacionais. Não por acaso, dá-se em todo o nosso território uma onda de crescimento da teologia da prosperidade e uma expansão de "milagres", milagreiros e escândalos, principalmente no meio pentecostal, como nunca visto.

Será tão difícil a tarefa de descobrirmos talentos tupiniquins? Não teremos bons escritores na América Latina e no Brasil? Estaria certo Nelson Rodrigues sobre o conceito de "complexo de vira-lata" que o brasileiro sofre ou sofria? Por que não valorizamos nossos escritores? São rasos? Por que os escritores estrangeiros (principalmante os americanos) são tão valorizados? Suas obras são tão profundos assim?! Que reflexão teológica profunda trazem os livros da outra América?! Seria uma questão de formação?! Se essa é a questão, quem nos assegura acerca da capacidade e formação de nossos editores? Não são poucos os que escrevem verdadeiros lixos doutrinários e tornam-se best-sellers no nosso pobre mundo intelectual, quando em seus países são escritores comuns ou abaixo da média. Paulo Coelho seria, apesar de não gostar de seu estilo, capaz de elaborar um enredo e, passando-se por crente no Senhor Jesus, vender mais que as casas que se digladiam pelo mercado de livros.

Sem dúvida houve acentuado crescimento no número de escritores evangélicos brasileiros, mas mercado aquecido não é sinônimo de qualidade. A maioria escreve livros pobres sobre dízimos e ofertas, críticas infundadas à reflexões de outrem, obras de auto-ajuda, livretos de sermões temáticos, biografias, testemunhos, sem citação de fontes e bibliografia, e isso sem falarmos nos plágios. Não há uma reflexão ou uma crítica teólogica séria, pois nos debruçamos sobre o superficial e magnificamos o mini. Aprendemos a fazer livros como eles, sem conteúdo sério. E isso não é por não termos bons escritores, mas por não valorizamos os talentos que temos e, por conta disso, desenvolveu-se, no submundo editorial, grupos de escritores marginalizados (independentes e ruins), porque ainda preferimos um Max da vida a um José do Brasil, um Philip a um Benedito da Silva. Ora, o que eles têm que os nossos não têm? Que intelecto avantajado têm eles? O que eles sabem sobre igreja, as nossas igrejas? As deles estão, na sua maioria, vazias, falidas, e por que querem nos ensinar sobre doutrinas e crescimento de igrejas? O que eles sabem de igreja sofredora, de congregação na favela, de mães adolescentes e drogradas, de seca e alagamento, violência urbana e dos direitos da criança e do adolescente não respeitados em nosso chão? O que dizem sobre crianças descalças, desnutridas e analfabetas? O que a teologia deles tem a dizer às mães que perdem os filhos por balas perdidas na Cidade de Deus por desmando das autorridades da "cidade maravilhosa"? E sobre a dengue, e o cólera, e a aids? O que seus belos livros com frases elaboradas têm a dizer aos que vivem na "cracolândia". Todavia, nem nossos escritores são tocados a escrever sobre essa realidade! Vivem em outro mundo e teimam em não se identificar com os pobres ou debater os problemas que a igreja nacional enfrenta. Ainda esses dias ouvi um desses tele-evangelistas perguntar a um grupo de senhoras em uma festividade de Círculo de Oração: "Vocês querem ter dinheiro para comprar na Daslu? (...) À vista?!" Eu imagino que livros ele lê para desenvolver uma teologia tão pobre, tão desprovida de sentimento de Cruz, renúncia e amor ao próximo (Pasmem, ele pertence à Academia Evangélica de Letras!).

Por que nossa literatura é pobre? Porque fazemos livros para vender, assim como eles, e não para evangelizar e ensinar ao nosso povo os princípios básicos da fé cristã. Somos pobres intelectualmente porque temos objetivos pobres e uma visão medíocre. Não vemos um palmo diante do nariz e queremos falar sobre visão missionária e expansão de igrejas. Escrevemos para enriquecermos os nossos bolsos e não as almas dos leitores (há raras excessões). Criticamos a teologia da prosperidade dos neo-pentecostais - que aliás é digna de crítica -, mas enchemos os bolsos dos evangelistas itinerantes e promovemos aqueles que repetem nossas falas, nossos discursos! Pagamos para profetizarem em nosso lugar porque não temos coragem de falar a verdade! E assim pensando, não somos melhores que Jezabel que sustentava profetas à sua mesa para afrontar o verdadeiro culto a Jeová.

A solução está em promovermos concursos livres para todas as idades, desde as crianças aos mais idosos, e envolvermos a igreja em debates sobre o pensar teológico e a realidade brasileira, que venham trazer uma literatura teológica-bíblica-brasileira sem as amarras do pensamento teológico elitista made-in Tio Sam. Nossos periódicos, mesmo os de igrejas de bairros, precisam deixar de serem veículos de propaganda e marketing para terem uma preocupação com a formação de uma verdadeira base doutrinária. É verdade que não devemos generalizar, pois sabemos que há algum valor teológico e apologético em meio à massa de escritores da América e Europa, mas uma teologia séria não tem que passar necessariamente pelas baboseiras americanizadas, cheias de tolices, sem conteúdo para uma real expansão do Reino e edificação do Corpo de Cristo. O público leitor sério está cansado desses livretos insignificantes que acumulam lixo na mente do povo de Deus e impede o crescimento espiritual, teológico e intelectualmente. Queremos livros de teologia bíblica de boa qualidade feita por brasileiros também!

Maranata. Ora Vem Senhor Jesus!
Deus abençoe a todos.


sexta-feira, 16 de julho de 2010

ESTUDOS NO EVANGELHO DE JOÃO (Capítulo I)


"No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus"
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O Evangelho de João ficou conhecido como o quarto Evangelho e também como o Evangelho do Filho de Deus. Estudiosos defendem que o quarto Evangelho foi escrito a pedido da ala grega da igreja primitiva, devido a ameaça gnóstica existente nos primeiros anos do cristianismo. Era comum nesse período expressões como: “cristão-gnóstico” ou “gnóstico-cristão”. Todavia o entendimento gnóstico acerca do Logos era imperfeito, sendo o Logos um ser que estaria ao lado de Deus sem, no entanto, ser Deus. Seria apenas mais uma emanação do deus Uno, assim como o Demiurgo (o Deus do Antigo Testamento), emanação esta que, na visão gnóstica, nunca deveria ter existido, pois que se rebelara contra Uno e fazia o que era mal.

Temos em Ez.1.10 a manifestação de seres celestiais, que o profeta identificou como querubins (Ez. 10.20). Esses tinham quatro asas e quatro faces, cada face olhando em uma direção e dispostas como sendo rostos de leão, de boi, de homem e de águia. O rosto de leão apontaria para a realeza do Senhor Jesus, apresentado em Mateus; o rosto de boi, para o Evangelho de Marcos, apresentando Jesus como o Servo do livro de Isaías; o rosto de homem para Sua humanidade no livro de Lucas e, finalmente, a face de águia que apontaria para Sua Divindade e origem celestial, representada no Evangelho de João.

O Logos, na concepção grega, era a origem criadora de todas as coisas, que sustentava e ordenava todas as coisas, estando ao lado de Deus, mas não sendo Deus. Esse tipo de ensinamento era estranho e nocivo à doutrina cristã ainda em formação na igreja primitiva e terrivelmente maligna do ponto de vista conceitual de Jesus como Filho de Deus.

O Evangelho de João tem um prisma que o diferencia dos sinóticos. Se Mateus e Lucas tiveram Marcos como base, como reza a teologia moderna, haja vista tanta semelhança e o fato de Marcos ser escrito primeiro (ditado por Pedro ao próprio Marcos, seu filho na fé), a ótica do evangelista do amor é a origem celestial de Cristo e Sua Divindade. Se Marcos não começa com uma genealogia por apresentar Jesus como servo, se Mateus inicia com sua genealogia real e Lucas se debruça sobre uma genealogia mais humana, inclusive apontando mulheres na árvore genealógica do Messias, João introduz em sua biografia do Mestre, o princípio anterior a todas as coisas. Quando diz: “No princípio era o Verbo”, ele lança mão do termo grego “arche” que tem o significado de origem e corresponde ao hebraico “bereshit” de Gn. 1.1: “No princípio criou Deus” (“Bereshit bara eloim”). O autor não apresenta genealogia porque a sua intenção é mostrar a relação que Jesus tinha com o Pai antes da fundação do mundo e isso o faz em diversas partes de sua obra, como em Jo. 8.58 e 17.5.

Ao escrever que o Verbo estava com Deus e que Este era Deus, o escritor está afirmando que o Filho é Deus igualmente e negando a doutrina gnóstica da existência dos “aeons”, que seriam seres emanados da divindade e intermediários entre Deus e os homens.

Outra característica da doutrina dos gnósticos era a ideia de que Jesus não tinha um corpo real, mas, fluídico, irreal ou fantasmagórico. Portanto, para Cristo ser Deus, não poderia encarnar, visto que na concepção gnóstica Deus era um ser puro, habitando em uma esfera de luz e pureza inacessível, e para tal não poderia ter contato com a matéria que era “inerentemente má”. João esclarece no início de sua obra que o Verbo estava com Deus, era Deus e “se fez carne e habitou entre nós e vimos a Sua glória como a Glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo. 1.14).

A doutrina da encarnação do Verbo é uma pilastra na doutrina cristã que não pode faltar. É tão sério o assunto que o mesmo João, em suas epístolas, dispara contra as heresias as seguintes palavras: "...provai os espíritos se procedem de Deus (...) todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne, é de Deus; e todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus, mas é o espírito do anticristo” (I Jo. 4.1-3). Não por acaso ele começa sua primeira epístola dizendo “o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da Vida” (I Jo. 1.1 A.R.A), em outras palavras, nada de corpo fluídico, irreal ou fantasmagórico: o Verbo encarnou, eu o vi, falei com Ele, andei com Ele e, mais que isso: toquei nEle e inclinei minha cabeça sobre seu peito...Sim, o Verbo se fez carne!

Precisamos resgatar a doutrina da encarnação do Verbo para não corrermos o risco de sermos levados pelas sutilezas dos gnósticos modernos da Nova Era e do ocultismo tão em voga em nossos dias. Faz-se necessário afirmarmos a doutrina do Logos na concepção cristã e os milagres da hipóstase e da kenósis, hoje mais do que nunca.

Maranata. Ora Vem Senhor Jesus!

Deus abençoe a todos.



sábado, 10 de julho de 2010

BRUNO, O LEVITA E O VALOR DA VIDA

A Bíblia conta a história de um levita, em Juízes 19, que saiu errante com sua concubina e tendo chegado em  Gibeá, passou ali a noite. Depois de permanecer na praça, um homem velho efraimita que morava em Gibeá lhe deu guarida. Porém, os moradores daquela região cercaram a casa,  insistiram e tomaram sua companheira (do levita) e abusaram dela sexualmente até ao amanhecer. Não resistindo, veio a falecer. Seu companheiro a esquartejou e enviou pedaços de seu corpo às doze tribos. O ocorrido causou grande indignação dos filhos de Israel para com os habitantes de Gibeá e houve guerra entre eles. Alguns, hoje, advogam que aquele levita estava fora do plano de Deus e por isso tudo aquilo sobreveio a ele. Nossas teologias igrejeiras têm a teimosa mania de relacionar toda as tragédias aos pecados das vítimas. Esquecem que o contexto (capítulos 17 a 21) fala de um período de apostasia, de um povo que servia a Deus, mas deixou-se corromper pelos costumes pagãos e enfoca a violência de uma gente sem rei e sem lei (v.1). Naquele tempo todos faziam o que queriam porque Sansão teve o seu ministério encurtado por conta de sua desobediência e foi ceifado cedo, antes de cumprir seu tempo de juiz.  O peregrino não queria passar a noite em cidades que não fossem de Israel, por isso escolheu aquela cidade, mas infelizmente Gibeá estava tomada da violência e crueldade, típicas dos antigos moradores cananeus. Em Lucas 13.1-5, o Senhor Jesus mostra claramente que homens bons e maus morrem de igual modo, e todos devem se arrepender igualmente. Ele próprio não tinha pecado e morreu tragicamente numa Cruz para nos salvar. E o que dizer dos apóstolos, cuja história relata que morreram todos martirizados? E Estevão? E Paulo? E Policarpo? e Jonh Huss?

Assisti, no Jornal Hoje, um lamentável levantamento de quanto o jogador Bruno, goleiro do Flamengo, clube carioca, poderia acumular de riquezas se continuasse jogando. Disse o especialista que se permanecesse no Brasil, acumularia 40 milhões de reais e se fosse transferido para o exterior poderia chegar aos 100 milhões. Esta é a realidade da sociedade e do mundo em que vivemos. Em pleno processo investigativo, onde o esportista é suspeito de haver mandado matar uma ex-namorada, a rede Globo de Televisão teve a brilhante ideia de calcular quanto o homem perderá em dinheiro. Alguém na emissora citada poderia citar quanto vale a vida da Eliza? A dor dos pais dela? As consequencias sobre a vida da criança que hoje completa cinco meses de vida? Os resultados psicológicos na vida dos participantes desse crime bárbaro, como o adolescente que presenciou toda a cena e confessou que não consegue deixar de ver Eliza?

Quanto vale a vida? Quanto vale uma alma para o Reino de Deus? Ou vamos brincar de determinismo agora e dizer que foi assim porque não era para ela ser salva mesmo, afinal era uma "modelo" ou que participou de filmes adultos e por isso mereceu esse tipo de morte? Morte descrita com requinte de crueldade, nem mesmo visto nos filmes de Mel Gibson. Disse o delegado que as últimas palavras da moça teriam sido: "Eu não aguento mais apanhar". Ninguém diz isso sem antes ser maltratada como um verme, um bicho. Li nos muitos jornais de nosso país que os criminosos teriam desossado o corpo (como um animal, um boi de frigorífico), dado sua carne para cães de raça rottweiler e depois concretado os ossos para não serem descobertos.

A investigação ainda corre, mas quero chamar a atenção para o que o ser humano sem Deus é capaz de fazer. E agora não importa tanto se o Bruno foi abandonado pelos pais quando bebê e criado pelos avós. Conheço muita gente abandonada em portas de casas de estranhos que crescem e são pessoas de bem. Os calvinistas estão certos quando falam de depravação total ou os arministas quando alegam que foi parcial? E por que a Igreja é tão omissa enquanto o assunto comove a nação inteira e não se pronuncia contra ou a favor? Alguém pode alegar que não pediram nossa opinião e por isso não nos metemos em questões que não nos dizem respeito. 

Sou muitíssimo a favor de que a igreja ore pelo mundo, pelas pessoas, pela salvação, pelas autoridades, pelos reis da terra, pela paz de Israel e de Jerusalém, mas também sou a favor de que a igreja vá a público para dizer que é contra esse tipo de violência, contra o pecado, contra a corrupção, contra as fichas sujas dos políticos e das convenções das igrejas evangélicas, inclusive. Não uma igreja que sai às ruas para fazer movimento com som de trio elétrico para chamar atenção para sua denominação e sua suposta influência na sociedade, enquanto seus líderes são presos não por amor a Cristo, mas por outras causas desprezíveis. Não sou a favor de uma igreja que marcha de um lado para o outro da cidade, mas não marcha para o Céu.

Neste ano de eleições, infelizmente, temos que reconhecer que boa parte de nossos políticos nada fazem para o bem-estar da sociedade. A maioria deles defende os interesses de suas denominações, dá títulos de cidadania a pastores que estão em eminência e coloca nome de cristãos destacados, segundo seus interesses particulares, em ruas de suas cidades, enquanto deveriam criar e votar leis mais justas, contra a violência e a desigualdade social. Quanto custa um mandato político? Quanto custa ser eleito? Quanto vale um voto? Quanto vale a vida da concunbina do levita errante? Quanto vale a vida da Eliza? Quanto vale a vida do nenen? E a do menor infrator? E a do Bruno? Quanto vale a vida dos executores? Quanto vale uma alma?

Eliza não era mais pecadora que qualquer outro cidadão para merecer uma morte bárbara. O ser humano é mau desde sua mocidade e é capaz de praticar os crimes mais hediondos e inimagináveis. Somente o Evangelho de Jesus poderia converter os moradores de Gibeá. As leis não vão extinguir o pecado, mas com certeza vão impedir o avanço da barbarie. E quem sabe as emissoras de televisão e os formadores de opinião teriam um coração mais humano, mais solidário, e repensassem o ser humano em termos de vida e não de valores.

Maranata. Ora Vem Senhor Jesus!
Deus abençoe a todos.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA PARA INICIANTES (PARTE V)

A TEOLOGIA LIBERAL II

Ritschl catedrático de teologia em Göttingen desde 1865. Seguiu nos passos de Schleiermacher, procurou extrair a essência do cristianismo da experiência cristã. Mas ao passo que Scheiermacher pensava que a tinha achado num senso de dependência absoluta, Ritschl acreditava que tinha descoberto no âmbito da moralidade. A vocação de Jesus fora fundar o reino de Deus entre o homem e, portanto, ser o portador da soberania ética de Deus sobre os homens. Sua morte, segundo Ritschl, nada tinha a ver com a expiação pelo pecado. Era o teste supremo da vocação de Cristo. Fez uma distinção entre julgamento de fato e julgamento de valor. O cientista faz julgamento de fato com base nas suas observações exatas, que pode testar pela experiência controlada. Na religião, porém, não podemos fazer experiências controladas com Deus e com aquilo que aconteceu no passado. Declarações religiosas são julgamentos de valor.

O homem que mais fez para desacreditar o Jesus moralista dos liberais do séc. XIX foi Albert Scheweitzer (1875-1965). Argumentava que o Jesus liberal histórico poderia ser construído somente a expensas de desconsiderar a escatologia, o ensino evangélico ser acerca da vinda do reino e do fim daquela era que se aproximava. Os liberais tinham se apegado ao ensino moral de Jesus e fechado suas mentes ao ensino sobre a vinda do reino. Jesus, segundo o argumento de Schweitzer, esperava que o reino viesse dentro em breve. Quando viesse, Ele seria revelado como o Filho do Homem Messiânico. Tendo isto em vista, Jesus enviou seus discípulos numa missão preparatória. Nem sequer mudou seus planos. A totalidade do ensino moral de Jesus era uma ética interina, que não visava definir princípios para todos os tempos, mas, sim, simplesmente visava preencher a lacuna até que o reino fosse finalmente estabelecido. Mas o plano inteiro falhou, e o resultado líquido foi a morte de Jesus. Jesus aparece como um político religioso fanático que foi errando seu caminho pela vida afora. Se Schweitzer tiver razão, então Jesus estava enganado. O que Schweitzer fez foi substituir uma criação racionalista por outra. Schweitzer está de acordo com Strauss e Renan ao eliminar da história a parte sobrenatural. O próprio Schweitzer passou a estudar medicina e foi como missionário para Lambaréné na África Equatorial Francesa. Mas não era um missionário comum. Embora Cristo entrasse no seu ensino, seu tema central era o respeito para com a vida.

Lado a lado com as muitas tentativas feitas nos séc. XIX no sentido de reconstruir a vida de Jesus em linhas modernas havia as tentativas igualmente numerosas para investigar os escritos bíblicos. Uma das reconstruções mais notórias do Novo Testamento foi aquela da assim chamada, da Escola de Tubingen com seu fundador F.C.Baur (1792-1860). Baur via a história da igreja primitiva como a concretização de uma luta entre dois partidos rivais. De um lado, havia o partido dos cristãos judaicos, liderados por Pedro. E do outro lado, havia Paulo, que representava um tipo mais novo e amplo de cristianismo, profundamente influenciado pelo mundo grego, que rejeitava a praxe judaica da circuncisão e a interpretação mais estreita da lei. Usando esta base, Baur passou a avaliar os livros do Novo Testamento. Aceitaria como genuínas somente aquelas cartas de Paulo que demonstravam sinais de conflito com os judaizantes. Sua lista apenas chegou a quatro: Gálatas, 1 e 2 Coríntios, e Romanos. Mateus, sustentava, era o Evangelho mais antigo porque lhe parecia o mais judaico. João era o último deles, porque revelava poucos sinais do conflito, o que supostamente significa que já foram emendadas as diferenças. Baur até mesmo detectava em João sinais das controvérsias gnósticas e montanistas do séc.II, naturalmente, segundo estas premissas, o Quarto Evangelho tinha pouco valor histórico. Antes de Baur, tinha sido sugerido às vezes que os Evangelhos, conforme agora os temos, são os resultados de tradições orais independentes acerca de Jesus, que foram registradas por escrito. Neste meio tempo, no entanto, os estudiosos começaram a acalentar seriamente a idéia de que as estreitas semelhanças entre Mateus, Marcos e Lucas pudessem ser melhor explicadas se eles fossem dalguma maneira dependentes uns dos outros.

A teoria de Karl Lachmann, da prioridade de Marcos, e da dependência a ele de Mateus e Lucas, é talvez a única teoria da crítica dos Evangelhos no séc. XIX que ainda é geralmente aceita ainda hoje. Mas foi somente depois de 1860 que se estabeleceu como ortodoxia crítica. Seu sucesso deve ser em grande medida a H. J. Holtzmann, que acrescentou numerosos refinamentos, sendo o não menos importante a hipótese Q (uma alegada coletânea de ditos de Jesus que Marcos não usou, pois relata muito pouco do ensino de Jesus, mas que foi usada de modo diferente por Mateus e Lucas).

Importante: O texto acima, como os demais sobre Teologia Contemporânea, está baseado na obra do Dr. Abraão de Almeida.

Maranta. Ora vem Senhor Jesus!
Deus abençoe a todos.

TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA PARA INICIANTES (PARTE IV)

A TEOLOGIA LIBERAL

Os anos finais do séc. XVIII e a totalidade do séc. XIX produziram uma coletânea de vidas de Jesus, racionalistas e fictícias, escritas com base na pressuposição de que elementos milagrosos e sobrenaturais na Bíblia já não são dignos de crédito. “A Life of Jesus” de Strauss (1835-36), negava completamente, o fundamento histórico dos elementos sobrenaturais nos Evangelhos. Esses seriam lendas ou mitos, criados espontaneamente entre a morte de Jesus e o ato de registrar os Evangelhos no séc. II.

“A Life of Jesus” (1863) de Renan também deixava de lado os elementos sobrenaturais nos Evangelhos. Fez um quadro muito humano de Jesus com o ambiente altamente evocativo que fazia com que o leitor sentisse a atmosfera da Galiléia e de Jerusalém. À medida que Jesus percorria a Palestina, pregando a “doce teologia do amor”, captou os corações de todos em geral. Mas, depois de um entrevero com os rabinos em Jerusalém, começou a trocar sua teologia judaica pelo fervor revolucionário. Perto do fim, ficou obcecado com um anseio estranho pela perseguição e martírio. Num prefácio à décima terceira edição, confessou que o livro não era realmente história científica de modo algum; era um retrato de “uma das maneiras segundo as quais as coisas poderiam ter acontecido”.

“Ecce Homo” (1865), escrito, conforme mais tarde foi apurado, pelo futuro catedrático de história moderna em Cambrigde, Sir Jonh Seeley, tinha mais escrúpulos do que Strauss e Renan quanto a negar o sobrenatural. Não o rejeitava expressamente, não se ocupava com as curas milagrosas de Jesus, mas sim, com Jesus como uma maravilha de moralidade. Jesus tinha uma paixão pela moralidade. Veio, não para ensiná-la, mas, sim, para infeccionar os homens com ela. O calor da personalidade de Jesus tinha um poder maravilhoso para transformar as vidas das pessoas.

O Jesus histórico dos liberais da corrente principal era um pregador dinâmico do amor e da moralidade. Vivia tão perto de Deus, que se poderia dizer que Deus estava nele. Arthur Drews, em The Chist Myth (1910), tratava o evangelho inteiro como uma obra de ficção. Muitos, porém, estavam dispostos a reconhecer que o Salvador divino nos Evangelhos era o produto da reflexão piedosa da igreja primitiva.

Este tipo de abordagem, que ressaltava os elementos humanitários e éticos no cristianismo a expensas dos metafísicos e sobrenaturais, foi herdado do teólogo sistemático principal da Alemanha na Segunda metade do séc. XIX Albrecht Ritschl (1822-1889). Mas em última análise fazia parte integrante do legado de Kant e da Era do Iluminismo. Kant tinha dirigido um ataque mortífero contra a metafísica e a teologia natural mais antiga. A crença em Deus ainda era admissível, mas não em bases racionais. A teologia cristã tradicional devia ser recusada. Mas a religião ainda poderia ser recuperada por causa das suas estreitas vinculações com a moralidade.

Importante: O material acima, como os demais sobre Teologia Contemporânea, está baseado na obra do Dr. Abraão de Almeida.

Maranata. Ora Vem Senhor Jesus!
Deus abençoe a todos.