quarta-feira, 8 de setembro de 2010

IGREJA NÃO FAZ ALIANÇA POLÍTICA

Sei que parece contrassenso e até relutei em postar o artigo que segue, mas apesar de discordar do pensamento do Ed Rene em questões como Onipotência e Soberania de Deus, e por ter acabado de postar um texto da CNBB pedindo para os fiéis não votarem em Dilma Rousseff, tenho que admitir que continuo admirador da capacidade argumentativa de nosso irmão Kivitz e que o texto abaixo, de sua autoria, é uma pérola nesses tempos de eleições. Quem lê, entenda! 
Ed René Kivitz.

Igreja não vota. Igreja não faz aliança política. Igreja não apoia candidato. Igreja não se envolve com política partidária. Há pelo menos cinco razões para este posicionamento.

Primeira: o Estado é laico. Igreja e Estado são instituições distintas e autônomas entre si. É inadmissível que, em nome da religião, os cidadãos livres sofram pressões ideológicas. Assim como é deplorável que os religiosos livres sofram pressões ideológicas perpetradas pelo Estado. É incoerente que um Estado de Direito tenha feriados santos, expressões religiosas gravadas em suas cédulas de dinheiro, espaços e recursos públicos loteados entre segmentos religiosos institucionais. É uma vergonha que líderes espirituais emprestem sua credibilidade em questão de fé para servir aos interesses efêmeros e dúbios (em termos de postulados ideológicos e valores morais) da política eleitoral ou eleitoreira.

Segunda: o voto é uma prerrogativa do cidadão. Assim como os clubes de futebol, as organizações não governamentais, as entidades de classe, as associações culturais e as instituições filantrópicas não votam, também a igreja não vota. Quem vota é o cidadão. O cidadão pode ser influenciado, melhor seria, educado, por todos os segmentos organizados da sociedade civil, inclusive a igreja. Mas quem vota é o cidadão.

Terceira: a igreja é um espaço democrático. A igreja é lugar para todos os cidadãos, independentemente de raça, sexo, classe social e, no caso, opção política. A igreja é lugar do vereador de um lado, do deputado de outro lado, e do senador que não sabe de que lado está. A igreja que abraça uma candidatura específica ou faz uma aliança partidária, direta e indiretamente rejeita e marginaliza aqueles dentre seu rebanho que fizeram opções diferentes.

Quarta: a igreja não tem autoridade histórica para se envolver em política. Na verdade, não se trata apenas de uma questão a respeito da igreja cristã, mas de toda e qualquer expressão religiosa institucional. A mistura entre política e religião é responsável pelos maiores males da história da humanidade. Os católicos na Península Ibérica e em toda a Europa Ocidental. Os protestantes na Índia. Os católicos e os protestantes na Irlanda. Os judeus no Oriente Médio. Os islâmicos na Europa e na América. Todos estes cometeram o pior dos crimes: matar em nome de Deus. Saramago disse com propriedade que “as religiões, todas elas, sem exceção, nunca serviram para aproximar e congraçar os homens, que, pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais que constituem um dos mais tenebrosos capítulos da miserável história humana”.

Quinta: o papel social da igreja é profético. Quando o governo acerta a igreja aplaude. Quando o governo erra a igreja denuncia. Quando a autoridade civil cumpre seu papel institucional a igreja acata. Quando a autoridade civil trai seu papel institucional a igreja se rebela. A igreja não está do lado do governo, nem da oposição. A igreja está do lado da justiça.
Todo cristão é também cidadão. Todo cristão deve exercer sua cidadania à luz dos valores do reino de Deus e do melhor e máximo possível da ética cristã, somando forças em todos os processos solidários, e engajados em todos os movimentos de justiça.

Comparecer às urnas é um ato intransferível de cidadania, um direito inalienável que custou caro às gerações do passado recente do Brasil, e uma oportunidade de cooperar, ainda que de maneira mínima, na construção de uma sociedade livre, justa e pacífica.

fonte: site da Ibab



Maranata. Ora Vem Senhor Jesus!
Deus abençoe a todos.

6 comentários:

Unknown disse...

Eu apenas quero saber de que igreja o Pastor Kivitz está falando. Parece-me que ele está a se referir a uma igreja utópica. (O termo “utopia” significa "em lugar nenhum", tradução de que o sonho social ainda não foi realizado). Esta igreja, que não se encontra em lugar nenhum, é a instituição histórica mais corruptora políticamente falando.

Pastor Guedes disse...

Reverendo Paulo Cesar,

Seja bem vindo!

Sua visita e comentário enobrece este espaço.

Nunca pensei que um dia defenderia o Pastor Kivitz, mas não vejo incoerência em seu texto e penso que ele acerta quando diz que a igreja não faz ou não deve fazer aliança política. Isso que está tão em moda hoje em dia, tem feito tantos "estragos" em nossas instituições religiosas e a história tem comprovado. Não penso que seja tão utópico assim e que está falando da igreja atual, histórica no "aqui e agora".

Não sou apolítico e defendo que a Igreja deve fazer política sim, mas com justiça, visando o bem comum da sociedade e não apenas o bem de sua denominação ou ministério.

Quanto à utopia, sua origem e significado, não seria correto pensar que o fato de não haver em nenhum lugar não quer dizer que não se deva buscar o mais próximo do ideal e tentar alcançar?

" Utopia também tem o sentido de meta. Em geral é usada como referência para a realidade histórica, para a vida. Por exemplo: a perfeição cristã é algo para ser alcançado, pois está entre o real e o não alcançado. A utopia cristã refere-se ao Reino de Deus, que já está presente, mas irá se realizar plenamente somente no
futuro, que é incalculável. A palavra utopia não pode ser compreendida como algo irrealizável, ainda que o sentido da palavra seja “o que não tem lugar”. A utopia alimenta e motiva
a esperança para que a trajetória humana mesmo com alvo desconhecido
seja construída passo a passo".*

Até mesmo em seu comentário, na definição de utopia, consta a expressão "sonho social AINDA NÃO realizado". O ainda não realizado não significa irrealizável e sim o que está ou pode ser realizado. Ou quem sabe, como diz Eduardo Galeano: "A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar" e eu acrescento e de sonhar com o ideal de justiça.

Abraço Reverendo.
No Amor de Cristo!

PS. Minhas colocações acima têm o objetivo de discutir o assunto na condição de aprendiz, pois não ignoro sua intelectualidade. Caso queira responder por email, coloco-me à sua disposição para aprender mais: pastorguedes@gmail.com

*Material da Faculdade Metodista.

Fernando Mercurio disse...

Caro Pastor Guedes.

Creio que devemos ler o Post usando o bom senso além de estarmos abertos sempre para a melhoria; seja ela utópica ou não.

Tenho "defendido" meu candidato a presidência pelo menos, através do Twitter.

Essa defesa trata-se apenas de tentar mostrar que ele é o "menos pior" entre os elegíveis. De maneira nenhuma tento defender "Ô" fulano e sim o meu ponto de vista e meu país.
Se passei do ponto, pelo menos não é de propósito. Se é que o pastor me entende.
As vezes para defender seu ponto de vista tem que atacar o ponto de vista do outro. (ou da outra)

Creio que vou me policiar mais depois do que li aqui. Me policiar em relação a qualquer tipo de preconceito caso veja algum irmão agindo de forma "contraria". Se é que o senhor me entende pastor.



Gostei muito e agradeço o Post e a resposta comentada pelo irmão.

Deus continue te abençoando e te usando como benção para todos...

Pastor Guedes disse...

Caro Fernando, a Paz!

Acredito que o crente tem que fazer política e se quiser defender um candidato também o pode (e deve, se o conhece, se conhece seu projeto, se é bom para o Reino). O que não podemos, entendo eu, é uma igreja, uma instituição religiosa, um ministério, uma Convenção, fazer aliança com um partido ou com uma filosofia partidária, principalmente as que têm pensamento diferente dos encontrados nas escrituras, como união civil (ou casamento) de pessoas do mesmo sexo ou aborto, por exemplo.

Outrossim, nós, evangélicos, precisamos acabar com aquela "politicazinha" do "é dando que se recebe" tão comum entre as lideranças das igrejas e os políticos. É isso!

Abraço, meu Amigo.
No Amor de Cristo!

Unknown disse...

Pastor Guedes, quero pedir permissão para republicar aqui no seu nobre blog, que muito tem a nos oferecer, sempre passo por aqui, para ler as matérias, embora, na maior parte de minhas visualizações que são breves devido ao tempo, não resta tempo maior para postagem, mas permita-me postar aqui o que já expressei anteriormente em site de relacionamento, quanto à divulgação desta matéria:

"Graça e Paz! Pastor Guedes, ótimo tema, para ser abordado em tempo mais que oportuno, esta "aliança sempre foi e será desastrosa, qdo feita com política partidária eleitoral, fique aqui registrado o meu abraço, onde teço elogios à sua pessoa pela coragem em expor o seu pensar, que sirva o seu texto de reflexão e aplicação em meio à igreja evangélica brasileira.
Deus continue a abençoá-los sempre."

Que venhamos a ser mentes pensantes e não apenas mentes em sua maioria, rotuladas de forma pejorativa, como são de forma contumaz, alcunhadas as pessoas que não pensam: "maria-vai-com-as outras".

Pastor Guedes disse...

Prezado Pr. William, a Paz!

Agradeço por sua visita.

Obrigado também por atender meu convite para republicar aqui sua opinião acerca desse assunto que a essa altura é tão crucial para nossas igrejas e nossa cidadania.

Abraço, meu Amigo, sua opinião é realmente muito importante e traz mais calor à discussão.

No Amor de Cristo!