terça-feira, 30 de março de 2010

TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA PARA INICIANTES (PARTE II)

Feuerbach

Curiosamente, dois movimentos anti-religiosos mais importantes dos séc. XIX tomaram Hegel como seu ponto de partida. São as filosofias de Feuerbach e de Marx. Ludwing Feuerbach (1804-72) estudou teologia em Heidelberg, e depois foi para Berlim a fim de estudar filosofia e aprender de Hegel.

Ao passo que Hegel dissera que toda a realidade era uma manifestação do Espírito Absoluto, Feuerbach calmamente contou aos seus leitores que este espírito nada mais era senão a natureza. “A natureza, portanto, é o fundamento do homem”. Feuerbach também podia concordar com Schleiermacher que o âmago de toda a religião é um senso de dependência absoluta, mas aquilo de que o homem depende e de que se sente dependente, nada mais é senão a natureza.

O ser divino nada mais é senão o ser humano, ou melhor, a natureza humana purificada, libertada dos limites do homem individual. Todos os atributos da natureza divina são, portanto, da natureza humana. A teologia nada mais é senão a antropologia - o conhecimento de Deus nada mais é senão um conhecimento do homem.

Feuerbach não era tanto um ateu quanto um ateísta, estava protestando contra a idéia de um Deus lá fora, sobre e acima do universo, tomando Hegel como seu ponto de partida, chegou à conclusão de que o hegelianismo deve ser transcendido. Ficou com a natureza, que passou a endeusar. Fala de um Deus que é diferente da natureza.

Marx e o Materialismo Dialético

Karl Max (1818-83) nasceu na Renânia de pais judeus que mais tarde se tornaram luteranos. Hegel tinha morrido cinco anos antes de Marx ir para Berlim, mas conforme Marx disse mais tarde, seu legado intelectual “influenciava pesadamente os vivos”. Marx associou-se com um grupo de hegelianos divergentes que se chamavam espíritos livres.

Marx tinha dívidas conscientes e inconscientes para com o pensamento de Hegel. Mas ao passo que Hegel considerava toda a realidade como sendo a operação do Espírito Absoluto, Marx seguia a Feuerbach o crédito de ter “fundado o materialismo genuíno e a ciência positiva”. Ao fazer do relacionamento social entre o homem e seu próximo o princípio básico desta teoria. Mas ao invés de reinterpretar a religião, Marx passou a denunciá-la como sendo a inimiga de todo o progresso. O homem faz a religião, a religião não faz o homem. O Estado e a sociedade produzem a religião. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o sentimento de um mundo sem coração, a alma de condições desalmadas. É o ópio do povo.

O vácuo deixado pela religião devia ser preenchido pelo materialismo. Ficou para Engels, Lenin e outros elaborarem a plena doutrina ortodoxa do Materialismo Dialético. É assim a justificativa da evolução da sociedade do feudalismo para o capitalismo, do capitalismo para o socialismo, e o socialismo para o comunismo. Em cada caso, a mudança realizou-se através de lutas das classes.

Nietzsche

Friedrich Nietzsche, filho e neto de uma família de pastores luteranos, o mesmo tem sido descrito como profeta mais do que um pensador sistemático.
Se, porém, Nietzsche era um profeta, era um porta-voz autonomeado em prol da humanidade. E o objeto do seu ataque era Deus.

O ponto de partida de Nietzsche é a não existência de Deus. O homem, portanto é deixado por conta própria. Visto que Deus não existe, o homem deve elaborar seu próprio modo de vida. Se, pois, Deus já não existe, o homem tem de enfrentar tudo sozinho.

A receita de Nietzsche achava-se nas doutrinas complementares da vontade de ter poder, da reavaliação de todos os valores, e do super-homem. O super-homem nada tem a ver com a doutrina nazista da superioridade racial. O super-homem é o homem que reconhece a situação humana que cria seus próprios valores. Ele mesmo não desconhece a angústia, mas triunfa sobre a fraqueza, e a despreza nos outros.

Não é difícil perceber por que Nietzsche foi adotado como filósofo do Socialismo Nacional. Para Nietzsche, deve haver uma limpeza total, O homem deve começar do zero, e decidir pela sua própria vontade aquilo que é certo e errado.

Darwin e a Evolução

O fator individual mais poderoso de longe, que minou a crença popular na existência de Deus nos tempos modernos foi a teoria da evolução, de Charles Darwin. Havia duas partes principais na sua teoria, a evolução, a sugestão de que a vida conforme a conhecemos desenvolveu-se paulatinamente no decurso de milhões de anos a partir de ancestrais comuns e possivelmente de um único ser protótipo, a outra, e da seleção natural, ou seja, a sobrevivência dos mais aptos. A fim de existirem, as plantas e os animais precisam alimentar-se uns dos outros. Aqueles que desenvolvem novas capacidades e se adaptam ao seu meio-ambiente com mais rapidez são aqueles que sobrevivem.

Reconhece-se que a teoria tinha de pressupor que isto acontecia às vezes de modo muito repentino, e que não ficava claro como as aves descendiam dos répteis, os mamíferos dos quadrúpedes anteriores, os quadrúpedes dos peixes, ou os vertebrados dos invertebrados. Mesmo assim, o evolucionismo veio a ser um tipo de lei que explicava o comportamento do universo. (O que buscavam os racionais do período pré-iluminismo). Além disso, embora as passagens finais de Darwin façam algumas referências respeitosas ao Criador, o impacto principal do seu pensamento estava claro. A evolução remove a necessidade de crença em Deus.

Foi em grande medida através de Herbert Spencer (1820-1903) que a evolução chegou ao homem na rua. Spencer via a luta pela existência em todas as esferas da vida. A evolução convenceu-o que não se devia interferir com a natureza, e que, portanto, ele deveria opor-se à educação estatal, às leis em prol dos pobres e à reforma habitacional tanto os capitalistas quanto os socialistas fizeram bom uso da evolução. Negociantes tais como Andrew Carnegie e J.D. Rockfeller diziam a si mesmos que, embora o indivíduo talvez sofresse no decurso dos fatos dos grandes negócios, tudo isto fazia parte integrante da lei da concorrência.

Os eclesiásticos estavam divididos entre si acerca da evolução. Havia aqueles como Deão Church e o Arcebispo Frederick Temple que acreditavam que a evolução não era incompatível com a crença no Criador. Outros, porém, tais como C.H. Spurgeon, eram francamente cépticos. Eram necessárias mais provas. Darwin ainda teria que escavar os elos que faltavam. Um efeito duradouro e lastimável do sucesso da Origin foi que os biológicos ficaram viciados em especulações incapazes de verificações.

Maranata. Ora Vem Senhor Jesus!
Deus abençoe a todos.
NO Amor de Cristo!

quarta-feira, 24 de março de 2010

TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA PARA INICIANTES (PARTE I)

Renne Descartes
Tendo como ponto de partida a universalidade da razão, Descartes identificou duas faculdades do intelecto: a intuição e a dedução. Pela primeira, temos idéias claras, porém simples. Através da segunda, descobrimos conjuntos de verdades ordenadas racionalmente.
Segundo Descartes, devemos desconfiar das percepções sensoriais, responsabilizando-as pelos frequentes erros do conhecimento humano, o verdadeiro conhecimento das coisas externas só pode ser conseguido através do trabalho lógico da mente.
Suas idéias se resumem em uma frase: “Tudo o que percebo muito claro e distintamente é verdadeiro”.
As principais doutrinas de Descartes são as seguintes:
a) Existe um Ser superior que controla a natureza e existe por si mesmo, não precisando de outro para existir.
b) A alma não é o princípio da vida, mas a consciência.
c) Certas idéias são inatas na mente, sem serem derivadas da experiência.
d) Não se pode confiar plenamente no valor do conhecimento (epistemologia), com suas perguntas: Como sei? Como posso estar certo?

Em resumo, o Cartesianismo afirma que, para conhecermos a verdade, é preciso, de início, colocar todos os nossos conhecimentos em dúvida, questionando tudo para, criteriosamente, analisarmos se, de fato, existe algo na realidade de que possamos ter plena certeza. O Cartesianismo influenciou grandemente a filosofia moderna, que, por sua vez, influenciou a teologia.

O Iluminismo
O Iluminismo nasceu dentro de um espírito de otimismo ideológico que buscava solução para os problemas da humanidade através da razão. Foi nessa busca que surgiu o iluminismo como resposta a todas as perguntas do homem daquele tempo. Enquanto o Renascimento inspirou-se no passado e retornou aos antigos, o Iluminismo vislumbrou um futuro glorioso que seria construído a partir do presente. A humanidade alcançaria um progresso jamais visto e as gerações seguintes seriam ainda mais prósperas. O homem era o centro, o ser humano seria capaz de construir um mundo melhor, mais feliz, mais próspero, mais... Deus estava fora do primeiro plano. Com a influência de Descartes, no passado, o pensamento iluminista, via-se cada vez mais próximo da ciência e disposto a levar tudo ao crivo da razão. Por conta disso havia uma tendência a desprezar o sobrenatural, o milagre e a intervenção divina, agora a razão, a ciência tinha resposta para tudo. Os iluministas não eram ateus, muitos deles eram cristãos muito fiéis aos princípios cristãos.

Kant
Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão, constitui um marco na história do pensamento contemporâneo. As idéias de Kant frutificaram com tamanha força que seu pensamento foi comparado ao de Sócrates. Após 12 anos da publicação de sua obra Crítica da Razão Pura, mais de duzentos livros foram escritos sobre sua filosofia.
Kant distingue duas formas básicas do ato de conhecer:
- O conhecimento empírico (a posteriori) - aquele que se refere aos dados fornecidos pelos sentidos.
- O conhecimento puro (a priori) - aquele que não depende de quaisquer dados dos sentidos. Nasce puramente de uma operação racional.

Na prática, Kant seguiu os princípios filosóficos de Descartes, tornando-os mais sofisticados. Seus principais conceitos são:
- As várias provas da existência de Deus: teologia, cosmologia, ontologia - parte da metafísica que estuda o ser em geral e suas propriedades transcendentais. Ou seja, a experiência prova a existência de Deus, haja vista existirem em toda parte sinais de ordem e propósito realizados com grande sabedoria.
- Há uma contradição fundamental no homem: embora orientado para o bem, tem, de fato, uma inclinação para o mal.

Hegel
George Hegel (1770-1831), filósofo alemão, cursou durante cinco anos o seminário protestante de Tubingen, preparando-se para a carreira eclesiástica. Ao deixar o seminário, afastou-se da religião e produziu muitos trabalhos que refletem a influência do racionalismo de Kant. Para Hegel, o objetivo da religião é o mesmo da filosofia: conhecer a Deus.
A unidade da escola hegeliana foi desfeita após sua morre, surgindo o Hegelianismo de direita e o de esquerda: A direita reduziu o Hegelianismo à afirmação do Deus pessoal e da mortalidade da alma.
Na esquerda, destacou-se David Friedrich Strauss (1808- 1874), famoso, teólogo radicalmente critico, que, em sua obra “A Antiga e a Nova Fé”, ataca o Novo Testamento, aceita a teoria da evolução e reduz a Pessoa de Jesus a um mero homem. Nas obras de Strauss não há lugar para o sobrenatural. Jesus é uma figura meramente histórica.


Maranata. Ora Vem Senhor Jesus.
Deus abençoe a todos.

quinta-feira, 11 de março de 2010

TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA PARA INICIANTES (INTRODUÇÃO)

Teologia Contemporânea é o estudo de Deus contextualizado com o nosso tempo e a evolução dos dogmas e dos pensamentos formados a respeito das doutrinas bíblicas frente aos desafios de nossos dias. A Teologia segue a História e, pelo menos historicamente, subdivide-se tal qual os períodos conhecidos. Para conhecermos melhor, devemos vasculhar na história da Teologia os fundamentos da Teologia Contemporânea, ou seja, percorrer os caminhos, os rastros ou pistas que formam o escopo da teologia do período em questão.

Um Pouco de História Antes de Kant
Teologizamos desde o Éden, mas para delimitarmos um ponto de partida é louvável que comecemos com a Teologia Patrística, isto é, a teologia desenvolvida pelos pais da igreja, os discípulos dos apóstolos e seus escritos indo até Agostinho.
Durante esse período a teologia era incipiente, com alguns erros crassos, por outro lado, dogmas que foram desenvolvidos nessa época dão sustentação, até hoje, às doutrinas mais fundamentais do Cristianismo. Nascida da necessidade de combater as heresias orientais no que diz respeito, principalmente à doutrina da Pessoa de Cristo, Sua Divindade e Sua Obra, foi responsável pela elaboração dos credos que defendiam a fé cristã, bem como pela exclusão dos hereges. Foi o berço da teologia cristã e um dos períodos áureos do saber teológico.
Mais tarde veio o papado e deu-se início ao período conhecido como Idade Média ou Idade das Trevas, como preferem alguns, porque pouco ou quase nada se descobriu na área do conhecimento científico. A Igreja tornou-se a detentora do poder religioso e temporal, logo todo saber estava sob seu controle e dizia o que era certo ou errado, como detentora do conhecimento.
Podemos dizer que Tomás de Aquino foi o mais importante teólogo da Idade Média. Usando a lógica aristotélica, procurou sintetizar os princípios da fé e da razão e provar pela razão a existência de Deus, valendo-se de argumentos racionais. Aquino entendia que o homem poderia encontrar Deus pela razão e assim desenvolveu uma teologia natural ao casar a teologia com a filosofia. Na realidade, Tomás de Aquino foi um monstro do saber e até hoje sua doutrina é utilizada pela cúria romana.
Nos tempos de Tomás, os intelectuais eram clérigos, quer dizer, tinham formação nas Universidades Católicas (um dos legados da Idade Média), logo a Europa tinha uma formação católica e nada parecia ameaçar a hegemonia da igreja do papado, pelo contrário, estava consolidada a civilização cristã, com reis e príncipes sujeitos ao bispo de Roma. Mas, não por muito tempo. A sociedade estava mudando e a igreja desse tempo não acompanhou as mudanças, ou como diz Jonh Landers: “não descobriu recursos para manter-se diante das novas realidades”. O sistema feudal havia surgido durante as invasões bárbaras, é nesse período que houve um esvaziamento nas cidades, o comércio quase desapareceu e as pessoas viviam em condições de subsistência agrícola.
A sociedade feudal era composta por três classes: nobres (cavaleiros que protegiam os lavradores e as terras), clérigos (a igreja) e camponeses (lavradores).
Com a volta da paz, as cidades voltaram a crescer e com elas os comerciantes, os artesãos. Os novos moradores da cidade não eram nem nobres, nem camponeses. Nasce então a classe média. Os comerciantes tornaram-se ricos, mas não tinham título de nobreza. Precisavam ter reconhecida sua superioridade, mas a igreja não abria as portas das universidades, senão para os clérigos, daí então, a resposta aos problemas foi: “humanitas”. Os humanistas pretendiam desenvolver toda a capacidade do indivíduo e por isso esse novo estilo de educação veio a chamar-se humanismo. Onde poderiam encontrar um currículo mais humanizante? Entenderam que Roma, que havia declinado, teve seu momento de ouro, e se retornassem aos escritos dessa era áurea poderiam reviver os dias gloriosos do Império Romano, em outras palavras alcançariam o conhecimento dos antigos apesar de pagãos.
Buscando conhecer os escritos de Virgílio, Sêneca, Cícero, Ovídio e outros, denominaram o seu próprio tempo de Renascença, em contraste com o período de mil anos de trevas de onde acabavam de emergir. Contudo, em sua busca pelos clássicos, não encontraram um modelo para a moral e a religião, mas modelos para a arte e literatura. É interessante observar que os humanistas não rejeitaram o cristianismo e a religião, e isso fez com que eles também buscassem indagações sobre a Bíblia nos originais. Descobriram pelos estudos que os padres de seu tempo não conheciam o grego e o hebraico e “mal rezavam a missa em latim”, e mais importante, descobriram que havia uma lacuna, uma distância muito grande entre o Cristianismo apresentado no Novo Testamento e a prática religiosa de sua época.


A Reforma
Com as invasões dos bárbaros e a queda de Constantinopla (1453), marcou-se o início do período da história chamado de História Moderna. Tempo das grandes navegações e conquistas de portugueses e espanhóis, tempo dos descobrimentos, tempo do renascimento artístico, literário e avanço em todas as ciências como matemática, física, entre outras.
Com o declínio de Roma, os reis que estavam sob seu cetro começavam a rejeitar a autoridade do papa como representante de Deus na terra e contestavam seu domínio temporal sobre suas terras. Dentre as muitas arbitrariedades, a venda de indulgências foi a gota d’água que faltava para eclodir a reforma.
Mas, foi do estudo das Escrituras que surgiu a Reforma Protestante. A teologia dos reformadores era também um retorno aos escritos antigos, as Escrituras. O período de Tomás de Aquino ficou conhecido como Escolasticismo ou Tomismo (sec. XIII e XIV), quando defendiam uma teologia natural onde o homem poderia encontrar Deus pela razão. A Reforma Protestante rompeu com a filosofia escolástica e voltou à Palavra. O lema dos reformadores foi: Sola Scriptura, Solus Crhistus, Sola Fide, Sola Gratia e Soli Deo Gloria! Após a reforma o período de 1618 a 1648 ficou conhecido como Guerra dos Trinta Anos. Somente entre os alemães, calcula-se que morreu um terço da população. Começa-se então a questionar o valor da religião. Depois de “mil anos de trevas”, a tentativa de restauração desencadeia um genocídio jamais visto numa sociedade dita cristã. Inicia-se uma busca para solucionar o problema da guerra, contudo, a essa altura o mundo já havia mudado o suficiente para estabelecer uma idéia antropocêntrica, capaz de mudar a história e dar novo rumo à humanidade, sem Deus.

Maranata. Ora Vem Senhor Jesus!
Deus abençoe a todos.