quinta-feira, 9 de setembro de 2010

DECÁLOGO DO VOTO ÉTICO

Acabei de receber de um amigo, o Pr. William Pessoa, e está plenamente de acordo com o post anterior.

        I. O voto é intransferível e inegociável. Com ele o cristão expressa sua consciência como cidadão. Por isso, o voto precisa refletir a compreensão que o cristão tem de seu País, Estado e Município;

       II. O cristão não deve violar a sua consciência política. Ele não deve negar sua maneira de ver a realidade social, mesmo que um líder da igreja tente conduzir o voto da comunidade noutra direção;

       III. Os pastores e líderes têm obrigação de orientar os fiéis sobre como votar com ética e com discernimento. No entanto, a bem de sua credibilidade, o pastor evitará transformar o processo de elucidação política num projeto de manipulação e indução político-partidário;

       IV. Os líderes evangélicos devem ser lúcidos e democráticos. Portanto, melhor do que indicar em quem a comunidade deve votar é organizar debates multipartidários, nos quais, simultânea ou alternadamente, representantes das correntes partidárias possam ser ouvidos sem preconceitos;

       V. A diversidade social, econômica e ideológica que caracteriza a igreja evangélica no Brasil impõe que não sejam conduzidos processos de apoio a candidatos ou partidos dentro da igreja, sob pena de constranger os eleitores (o que é criminoso) e de dividir a comunidade;
      
       VI. Nenhum cristão deve se sentir obrigado a votar em um candidato pelo simples fato de ele se confessar cristão evangélico. Antes disso, os evangélicos devem discernir se os candidatos ditos cristãos são pessoas lúcidas e comprometidos com as causas de justiça e da verdade. E mais: é fundamental que o candidato evangélico queira se eleger para propósitos maiores do que apenas defender os interesses imediatos de um grupo religioso ou de uma denominação evangélica. É óbvio que a igreja tem interesses que passam também pela dimensão político-institucional. Todavia, é mesquinho e pequeno demais pretender eleger alguém apenas para defender interesses restritos às causas temporais da igreja. Um político de fé evangélica tem que ser, sobretudo, um evangélico na política e não apenas um "despachante" de igrejas. Ao defender os direitos universais do homem, a democracia, o estado leigo, entre outras conquistas, o cristão estará defendendo a Igreja.

       VII. Os fins não justificam os meios. Portanto, o eleitor cristão não deve jamais aceitar a desculpa de que um evangélico político votou de determinada maneira porque obteve a promessa de que, em assim fazendo, conseguiria alguns benefícios para a igreja, sejam rádios, concessões de TV, terrenos para templos, linhas de crédito bancário, propriedades, tratamento especial perante a lei ou outros "trocos", ainda que menores. Conquanto todos assumamos que nos bastidores da política haja acordos e composições de interesse, não se pode, entretanto, admitir que tais "acertos" impliquem na prostituição da consciência cristã, mesmo que a "recompensa" seja, aparentemente, muito boa para a expansão da causa evangélica. Jesus Cristo não aceitou ganhar os "reinos deste mundo" por quaisquer meios, Ele preferiu o caminho da cruz.

       VIII. Os votos para Presidente da República e para cargos majoritários devem, sobretudo, basear-se em programas de governo, e no conjunto das forças partidárias por detrás de tais candidaturas que, no Brasil, são, em extremo, determinantes; não em função de "boatos" do tipo: "O candidato tal é ateu"; ou: "O fulano vai fechar as igrejas"; ou: "O sicrano não vai dar nada para os evangélicos"; ou ainda: "O beltrano é bom porque dará muito para os evangélicos". É bom saber que a Constituição do país não dá a quem quer que seja o poder de limitar a liberdade religiosa de qualquer grupo. Além disso, é válido observar que aqueles que espalham tais boatos, quase sempre, têm a intenção de induzir os votos dos eleitores assustados e impressionados, na direção de um candidato com o qual estejam comprometidos.

       IX. Sempre que um eleitor evangélico estiver diante de um impasse do tipo: "o candidato evangélico é ótimo, mas seu partido não é o que eu gosto", é compreensível que dê um "voto de confiança" a esse irmão na fé, desde que ele tenha as qualificações para o cargo. Entretanto, é de bom alvitre considerar que ninguém atua sozinho, por melhor que seja o irmão, em questão, ele dificilmente transcenderá a agremiação política de que é membro, ou as forças políticas que o apóiem.

       X. Nenhum eleitor evangélico deve se sentir culpado por ter opinião política diferente da de seu pastor ou líder espiritual. O pastor deve ser obedecido em tudo aquilo que ensina sobre a Palavra de Deus, de acordo com ela. No entanto, no âmbito político-partidário, a opinião do pastor deve ser ouvida apenas como a palavra de um cidadão, e não como uma profecia divina.

Décalogo aprovado pela AEVB 

Soli Deo Gloria

10 comentários:

Fernando Mercurio disse...

Um verdadeiro "Post Bem-Aventurado".

Fiquei muito em paz ao ler, compreender e poder, sem dúvida nenhuma, colocar em prática minha cidadania cristã aqui nesta terra.

Mais uma vez obrigado pastor Guedes!


Tem coisas que só nos fazem ter mais e mais saudades de nossa verdadeira Pátria.
O Senhor Jesus é contigo.

Pastor Guedes disse...

Querido Fernando, a paz!

É sempre bom tê-lo por aqui.

Sim, esse texto é muito rico e abrangente. Creio que diz tudo!

Parabéns à AEVB.

Abraço.
No Amor de Cristo!

Anônimo disse...

Caríssimo Pastor Guedes
É com alegria e satisfação que li o seu artigo sobre o voto dos evangélicos.Fato que nos deixa muito preocupado com a falta de informação que muitos cidadãos sendo evangélicos ou não, tem sobre aqueles candidatos a diversos cargos nestas eleições.Ficamos apreensivos quando notamos que alguns candidatos tidos como evangélicos, não tem nenhum preparo para vida publica, e não sabemos qual será a sua atuação em pro de toda sociedade.Que o nosso Deus nos guarde e nos ajude.
Celio Zupelo

Pastor Guedes disse...

Caríssimo Célio Zupello,

A Paz do Senhor!

Seus comentários são muito bem vindos aqui.

Li com alegria seu comentário sempre ponderado.

A falta de informação sobre os candidatos é, sem dúvida, um problema sério para nós evangélicos, pois não temos tradição cívica e não somos, na maioria, politizados.

Concordo com o irmão acerca do não preparo de nossos candidatos, mas penso que nesse universo político, apenas uma dúzia sabem de fato por que querem estar lá e talvez um quarto, apenas, tenha um projeto político sério. É pouco, é muito pouco!

Penso que antes de irem para lá para defenderem a Igreja, eles deveriam ir para serem Igreja (Luz em meio às trevas).

Abraço.
No Amor de Cristo!

Alberto Couto Filho disse...

Pr. Guedes,
Naquele "nosso" texto eu proponho que o desenvolvimento das nossas lideranças seja estimado como um "Alvo Educacional", uma "Estratégia" e um "Processo".
Proponho, ainda, que, neste processo, haja a inclusão de "matérias de cidadania", tais como esta, apresentada na forma de um decálogo.
É compensador ater-se às mensagens do seu blog.
E por que não agradecer ao seu editor?
Em Cristo

Pastor Guedes disse...

Caro Alberto,

Seus textos são o clamor de uma geração que não teve "pais" (pastores e mestres) que lhes falassem da importância da cidadania e nem tiveram ("os pais") engajamento político no tempo em que a igreja brasileira mais precisou. Falo do período da ditadura militar. Penso que ali deveria ter nascido na igreja um sentimento cívico, pátrio e uma consciência de cidadania. Não aos moldes da esquerda que pegou em armas e... bem, como bom estudioso você sabe o que aconteceu. Falo (hoje) em pegar o livrinho da Constituição e debruçar-se sobre as responsabilidades do Congresso e pelo menos saber o que faz cada um dos Três Poderes, o que é Lei Orgânica, a importância do voto para mudar governos, etc. Tivessem semeado isso e hoje não estariam nossos irmãos, principalmente no nordeste, votando em candidatos para não perderem as "bolsas do assistencialismo eleitoreiro".

Enquanto isso aquele sentimento pátrio de orgulho e pertencimento deixamos ou transferimos para heróis populares como Pelé, Guga, Ronaldo Fenômeno, Airton Senna, Maria Ester Bueno, Villa Lobos, Tom Jobim, Ivan Lins, entre outros, e esperamos que as coisas mudem na próxima copa do mundo.

Querido Alberto, infelizmente, a igreja não sabe o potencial que tem. Ah, se soubesse e já teríamos mudado a história desse País e Nação.

Oxalá, sua obra venha de fato abrir os olhos de nossas lideranças para essa realidade e formar pastores e membros em verdadeiros cidadãos (da terra e do céu).

Obrigado pelas palavras elogiosas acerca das matérias do blog. Acredito que seus elogios são sinceros. Eu que agradeço por ter você como amigo e poder aprender mais um pouco com o irmão.

Forte Abraço.
No Amor de Cristo!

NICODEMOS disse...

PAZ SEJA CONTIGO

MUITO PERTINENTE O DECÁLOGO. ONDE CONGREGO O SISTEMA DE CURRAL ELEITORAL SÓ NÃO É PIOR POIS COMBATO A ELES UTILIZANDO A BÍBLIA E PUBLICO UM JORNAL IMPRESSO ONDE EXPONHO ESTUDOS BIBLICOS DE MODO A CONDUZIR A IGREJA À REFLEXÃO DE TODOS ACERCA DO MELHOR RUMO A TOMAR.

Pastor Guedes disse...

Prezado Nicodemos,

A Paz!

Agradeço por sua visita e comentário.

É um pena que ainda haja esse tipo de "política" e a "vida de gado" seja (ainda) uma realidade em nossas igrejas. Creio mesmo, amigo Nicodemos, que a Igreja tem um potencial incrível de mudar o mundo e a História, mas para isso precisamos mudar a mentalidade.

Ainda não chegamos lá, mas quem sabe nos próximos pleitos tenhamos mais consciência e mais participação política e ética.

Abraço.
Foi muito bom tê-lo por aqui.
No Amor de Cristo!

SANDRO LUIS DO ESPIRITO SANTO disse...

Concordo plenamente, o voto cristao deve ser direcionado para candidatos comprometidos com a palavra do Mestre.
O político que está disputando o pleito eleitoral só irá merecer a confiança do povo evangélico se tiver um caráter ilibado e falar a mesma linguagem cristã.
Muito bom o "decálogo do voto ético".

Pastor continue publicando mais lições de cidadania.

Àh, NÃO ESQUEÇA DE ACOMPANHAR O MEU BLOG, PODE DEIXAR UMA CRÍTICA OU COMENTÁRIO.

SANDROCRISTAO.BLOGSPOT.COM

Pastor Guedes disse...

Prezado Sandro,

A Paz do Senhor!

Agradeço por seu comentário e visita.

A Igreja pode mudar essa situação através do exercício da cidadania sim, e isso através do voto consciente.

Chega de votar no escuro ou vender o voto. Isso deveria estar arquivado no museu do cairo juntamente comas as múmias...

Pode deixar, vou visitar seu blog sim.

Abraço.
No Amor de Cristo!