terça-feira, 15 de setembro de 2009

QUE IGREJA NOS CONVÉM SER?

Em Mateus capítulo 17 (Marcos 9 e Lucas 9) temos a passagem que as sociedades bíblicas nos ensinaram a chamar de "a transfiguração". Diz o texto que Jesus subiu a um alto monte e lá transfigurou-se, foi transfigurado ou as duas coisas (as muitas versões da Bíblia não concordam entre si se Ele sofreu a ação, se foi agente ou se ambas as coisas). Embora os teólogos chamados liberais, como Rudolf Butmman e outros, não aceitem essa narrativa como verdadeira, o certo é que a Palavra relata a transfiguração em três dos quatro evangelhos, o que nos dá base para um testemunho verdadeiro. As Escrituras dizem que o testemunho de dois é verdadeiro. Não me refiro ao testemunho não de Mateus, Marcos e Lucas, mas de Cefas e dos irmãos Boanerges.

Quanto ao local, alguns alegam tratar-se do Monte Hermom, outros defendem ser o Tabor, todavia, a presença de uma base, uma guarnição militar romana nesse monte, inviabilizaria, segundo alguns estudiosos uma manifestação dessa natureza. Seja no Hermom, no Tabor ou em outro monte, os evangelistas afirmam que o Senhor subiu levando consigo Pedro, Tiago e João, deixando os demais ao pé do monte. Fosse alguém envolvido com o G12 (não é o meu caso) diria que o Mestre subiu com o G3 e preferiu deixar o G9 na base.

Quanto à natureza da manifestação, os teólogos se dividem entre realidade e visão. Consta nos textos sagrados que Jesus de Nazaré se transfigurou (ou foi transfigurado) ante os olhos sonolentos (Lc. 9.32) dos três discípulos, que ao despertarem se depararam perplexos com o que viram. Os três viram, portanto, não parece uma visão simplesmente, mas uma experiência comum aos três. Contemplaram Jesus transformado em glória e viram, juntamente com Ele, Elias e Moisés falando acerca de sua morte na cruz.

Os convidados ficaram admirados com tanta glória no rosto, nas vestes do Senhor e com a aparição dos representantes da Lei e dos Profetas. Pedro, ao tomar a palavra deu indicação de que descer seria assunto fora de questão: "Senhor, bom estarmos aqui. Se queres, farei uma casa para ti, outra Moisés e outra para Elias". E Marcos acrescenta: "mas ele não sabia o que dizia porque estavam carregados de sono e aterrados" (Mc. 9.6). A Bíblia King James, a famosa versão inglesa do Rei Tiago, traduz casa por "tenda" o que possibilita a idéia de tabernáculos ou pequenos templos. Assim, Pedro estava pensando em Jesus nos mesmos termos de Elias e Moisés, ou seja, um grande líder, um profeta somente e não como "o Cristo Filho do Deus vivo" que havia confessado em Mateus 16. A nuvem luminosa, tão contestada pelos liberais, e a voz do Pai apontam para a singularidade e superioridade do Filho. Só dependeria do consentimento do Mestre e eles ficariam ali em perpétuo êxtase.

Enquanto isso na base do monte, um pai desesperado trazia seu filho endemoninhado, atormentado desde a infância por um espírito que o deixara surdo e mudo, que as vezes o lançava na água e outras vezes no fogo para o matar. O grupo que não subiu ao monte não conseguiu expulsar o demônio, ou seja não conseguiu dar resposta às necessidades daquele pai aflito. Essa era a crua realidade da comunidade ao redor do monte. Gente pagã, cheia de misérias, sob o domínio dos espíritos imundos, presas em cadeias espirituais e ignorantes quanto à realidade do Reino que se manifestara tão próximo, no topo. A igreja dos nove não tinha poder ou autoridade para expulsar o demônio, mais do que isso não tinha resposta para os problemas da sociedade, das comunidades que viviam naquela região.

Finda a manifestação em glória nas alturas e findo o êxtase de Pedro e companhia, Jesus trouxe a igreja do monte para a base com o fim de mostrar-lhes a realidade que os esperava. Enquanto Pedro e os irmãos Zebedeus se deliciavam com a glória, com a visão, com o espetáculo, havia uma igreja três vezes maior na base, disposta a trabalhar, a mostrar serviço, mas sem poder ou visão do Reino que desse resposta às angústias do ser humano de seu tempo.

Ao trazer a igreja de cima para a base, Jesus quis mostrar-lhes uma outra visão, uma visão do mundo humano real e suas necessidades. O Mestre pretendia ensinar-lhes (e a nós) que o cristão não vive somente de êxtase, de oração, de "reteté" ou "repleplé", que vida cristã não se dá apenas no monte da oração, mas que a igreja que sobe ao monte deve descer com poder, com glória, compartilhar esse poder com as almas e atender as necessidades espirituais do mundo que a cerca.

Que igreja temos sido e com qual modelo nos identificamos? Igreja do monte embevecida com as visões, com as manifestações gloriosas e acomodada aos milagres de Elias e Moisés ou igreja da base, sem poder e sem resposta para os que batem a sua porta? Somos igreja de Cristo ou estamos presos aos modelos de espiritualidades do passado como Pedro em relação aos profetas e lideranças do Antigo Testamento? Nossos sermões são cristocêntricos e cristológicos ou voltamos às referências exclusivas da Lei para justificar o que nos convém e desprezamos o contexto que não nos interessa por não se enquadrar no perfil de igreja que idealizamos? Nossas pregações respondem às carências e necessidades espirituais do mundo que "jaz no maligno"? Temos respostas para as angústias do homem moderno ou ficamos nos templos batendo o pé no chão e gritando: "Terra! Terra!"?

Que igreja nos convém ser?! Temos carisma, estamos desejosos de trabalhar para e no Reino, mas estamos perdendo a identificação com a massa pecadora ao nosso redor e com as classes menos favorecidas. Inclusive por isso não temos respostas adequadas para a marginalidade, a injustiça, a violência, a corrupção, a prostituição, o homossexualismo, entre outras questões morais e sociais que poderiam ser minoradas pela presença de um evangelismo mais presente, eficiente e dinâmico. Estamos deixando de assimilar a linguagem da juventude e seus problemas, por exemplo, porque perdemos o contato e deixamos de acompanhar os jovens. Deixamos isso aos cuidados de um responsável que chamamos de coordenador, líder, presidente ou pastor de jovens. Estamos perdendo a visão das questões da idade dos adolescentes porque lhes demos um "pastor" (ou pastora) para os acompanhar. E assim, deixamos a visita para uma equipe, o evangelismo para outra, enquanto a música é problema somente do maestro ou regente e a escola dominical do superintendente igualmente. Até usamos as palavras do apóstolo Pedro em Atos 6.3,4 para justificarmos nossa inércia e indiferença quanto ao cuidado pastoral: "Escolham dentre vós sete varões (...), nós ficaremos na oração e no ministério da Palavra" (tradução livre).

Que igreja nos convém ser?! Convém ser Igreja que ora, que sobe ao monte, que tem visões, mas que entra na casa de Cornélio (Atos 10); que defende a realidade e atualidade dos dons (I Co. 12); que prega o batismo como essencial revestimento de poder (Atos 19) na tarefa do evangelismo e que ensina a busca dos dons espirituais (I Co. 14), mas que se identifica com as necessidades do homem comum nas ruas, dos vizinhos, dos pobres e dos ricos, dos negros e dos brancos, dos religiosos, dos endemoninhados e dos religiosos endemoninhados, dos enfermos e dos sãos, e que prega o superioridade do amor (I Co. 13). Convém ser Igreja para todos, sem discriminação, sem preconceitos, sem privilégios, sem pompa de carismatismo e superioridade. Igreja que vai à favela ganhar almas, alimentá-las com o pão do céu, mas também com o pão de trigo, que cura os enfermos, os coxos, os cegos, pelo poder do sinal realizado através da fé na autoridade do Nome de Jesus (Mc. 16.15,16) e que cura as relações de família, que ajuda a levantar e andar (Atos 3.7), a abrir os olhos para a nova realidade espiritual trazida pela ação da Graça. A propósito, a Igreja de Jerusalém era dirigida pelos mesmos representantes da igreja do monte e da base (exceto Judas Scariotes). Não é que o modelo apresentado por Jesus deu certo! E não é que eles aprenderam a fazer e viverem como igreja (Atos 4.32-35)!

E nós? Que igreja nos convém ser?!


Maranata. Ora vem Senhor Jesus!

Deus abençoe a todos.

6 comentários:

Anônimo disse...

Amado Pastor, a Paz do Senhor.
Exelente texto, parabéns,o tema
é extremamente atual.Digo atual,porque hoje infelizmente existe igrejas para os mais variados tipos de publicos. Igrejas com luzes amarelas, verdes, vermelhas piscando ao som
de um som epinotico, outras com
fumaça produzida com gelo seco,outras vendendo prosperidade
em troca de alguns reais, outras com lideres casados duas ou trez vezes, outras vivendo só no monte do retete ou vivendo só na terra preocupada com a unção financeira desses ultimos dias, enfim poucos são os lideres de grande ou de pequenos ministerios que estão preocupados em responder a esta pergunta intrigante: QUE IGREJA NOS CONVÉM SER ?
Amado, acredito que nos convém ser a igreja que nasceu no coração de Cristo, aquela que não se envolve com politica, aquela que não avalia um homem pelo seu saldo bancario, aquela que não esta preocupada com quantidade de membros (não que isso seja errado,
mas não adianta ter uma igreja cheia de gente vazia de Deus),aquela que prega as verdades da Bíblia, aquela que os pastores sobem ao monte (em oração) para terem mensagens dirigidas por Deus, aquela que cumpre o IDE do MESTRE evangelizando a ricos e pobres. Que DEUS tenha misericordia, é que cada um faça o possivel para ser A IGREJA QUE CONVÉM SER.
Deus abençoe, um forte abraço.

Pr. Clemente Macedo

Pastor Guedes disse...

Prezado Pr. Clemente,

Seus comentários são sempre muito bem vindos, porque temos uma visão muito aproximada da descrição das Escrituras sobre Reino de Deus.

As igrejas brasileiras estão ficando famosas no mundo não pelo seu vigor espiritual, mas pelo espetáculo. Esses dias deu no New York Times que as igrejas brasileiras estão cheias para ver apresentação de Jiu Jitsu.

Sem comentários...

Abraço fraterno.

THIAGO JESUS disse...

A Paz Do Senhor Pr.Guedes!!

Glória a Deus por este artigo,que possamos já sermos a Igreja de Jesus Aqui na terra com todas estas qualificações e que possamos cumprir todas estas tarefas sem nos esquivar da responsabilidade que nos foi confiada pelo Mestre !
É já a última hora e é tempo de abrirmos os Olhos pois o Mestre esta as Portas !!!

Deus abençoe o amado Pr. !

THIAGO JESUS

Unknown disse...

Prezado Pr. Guedes,

Parabéns pelo seu blog e por seu último post.

Esse texto veio em boa hora para nos alertar contra as muitas igrejas que surgem com um cristianismo doentio e deformado, pois vivem de práticas ditas cristãs, as mais diversas e algumas absurdas como citada por seu comentário acima, que para atraírem público jovem apresentam espetáculo de luta livre e jiu jitsu, outros formam blocos de carnaval, fazem rampas de skates, etc....

Onde vai parar isso?!

A Paz

Pastor Guedes disse...

Prezado Thiago, a Paz do Senhor!

Realmente é o tempo do fim. Ainda no sábado passado preguei sobre as 7 cartas às igrejas da Ásia com base na carta à igreja de Filadelfia. Os modelos que se apresentam hoje são muito diferentes e estão muito aquém do modelo exigido nas Escrituras.

Deus lhe abençoe por sua visita e comentário. Sucesso pra seu blog e parabéns pelos posts.

Abraço fraterno.

Pastor Guedes disse...

Prezada Irmã Regeane, a Paz do Senhor!

Realmente temos tido muitas novidades na área da eclesiologia. Como disse em um comentário anterior, as igrejas não sabem mais o que fazer para atrair pessoas. Isso que eles entendem como crescimento na verdade é sinal de fraqueza. Os esforços das igrejas para mudar são uma tragédia para a vida cristã. Estão inventando estratégias, quando na verdade só precisam pregar e viver o Evangelho como ele é.

Deus lhe abençoe.

Fica na Paz!