terça-feira, 27 de outubro de 2009

USOS, COSTUMES E LIBERDADE NAS IGREJAS!

Sou cristão evangélico há 27 anos. Converti-me em 1982 na Assembleia de Deus do Templo Central, em Granja Portugal, um bairro de Fortaleza, capital cearense. Nessas quase três décadas na fé, já presenciei de tudo. Dentre as muitas coisas que acompanhei, está a evolução conceitual sobre os usos e costumes. Posso garantir que a igreja vive um momento de liberdade nunca visto antes. Liberdade que assusta os mais conservadores e faz tremer os mais radicais.

Lembro-me que no passado somente os membros participavam do culto de doutrina e somente os membros em comunhão podiam entrar no templo para tomarem a Ceia do Senhor. Apresentavam o cartão de membro com a assinatura do pastor confirmando sua permanência na comunhão com o corpo de Cristo, a Igreja. Vinham todos vestidos de branco. Era bonito. Também nas reuniões de oração não podiam entrar descrentes, nem o irmão disciplinado.

Nesses anos todos, assisti a maturidade da minha denominação rumo a uma visão mais equilibrada e próxima da Bíblia. Acredito que a globalização, a quebra de barreiras internacionais e a internet, que fez com que os pastores viajassem mais pelo mundo, e o intercâmbio com culturas como a americana, européia, africana e outras, fê-los refletir melhor sobre o assunto em questão.

Legalismo na Bíblia está vinculado à justificação pelas obras da Lei de Moisés. Os legalistas ou judaizantes ensinavam que além da fé em Cristo, os cristãos deveriam observar a circuncisão e a guarda do sábado (Carta aos Gálatas). Legalista, portanto, é aquele que se justifica pela Lei de Moisés ou busca obedecer aos 613 mandamentos apontados na Torá. Em nossos dias a expressão ganhou outra conotação nos lábios de líderes de denominações que não guardam esses bons preceitos.

O prezado leitor pode até ouvir alhures acerca de um pastor mais radical que disciplinou um membro por não guardar essas questões, mas o discurso da liderança atual não é esse. Hoje, em nosso mundo cada vez mais plural, a análise passa pelo ponto de vista da identidade denominacional, sem rejeitar a questão do pudor e da modéstia. Esses preceitos são bons se observados do prisma da piedade. Caso trate-se de obediência cega, por medo ou por imposição, perde a beleza de significado e riqueza emblemática. Os que os guardam somente por medo de perderem cargos e oportunidades nas igrejas estão fadados a viverem uma vida de mentira e hipocrisia. Portanto, devem ser observados por convicta vontade de viver piedosamente para agradar a Deus através da conduta interior e exterior. Explico: O uso dos vestidos, das saias, as chamadas vestes sociais e os rostos barbeados não representam santidade ou vida piedosa em si. Há pessoas que usam roupas de acordo com os bons costumes, mas infelizmente, trajam-se com demasiada sensualidade. Refiro-me às roupas curtas, decotes ousados e trajes tão apertados que mostram a silhueta do corpo e ressaltam as peças íntimas do vestuário masculino ou feminino. Essas revelam falta de pudor e despertam a libído de pessoas dentro e fora da igreja. Vestes caríssimas, que ostentam luxo e riqueza, também revelam um espírito, eu diria, pouco cristão, assoberbado, apartado da simplicidade que há em Cristo e dos primórdios da igreja: os primeiros discípulos e seus ensinamentos. Outros há que vestem-se adequadamente, mas vivem de modo dissoluto e mentiroso, com práticas imorais e inadequadas na igreja e na sociedade. Logo, a questão é mais profunda, tratando-se da observância da moralidade cristã.

Certa vez fui questionado acerca do assunto. Como percebi que o assunto era acerca de "doutrinamento", respondi que sou a favor da manutenção, mas que a observância deles não salvam. Acrescentei que a noção dos usos e costumes como garantia da salvação diminuiria o valor do sacrifício de Cristo na Cruz e que o conceito de não-observância vinculado à salvação levaria muitos outros cristãos à perdição eterna. Observei ainda que não temos o direito de condenar ao inferno os irmãos batistas, presbiterianos e outros porque não seguem esses princípios. Meu interlocutor não gostou muito da esposta, mas é a verdade que eu encontro na Bíblia Sagrada e defendo. Não condenamos os que não observam. Não evitamos os que pertencem a outras denominações. Recebemos bem em nossas congregações, apresentamos como irmãos em Cristo, mesmo os não-pentecostais, e os saudamos como irmãos com a Paz do Senhor.

A liberdade de expressão em nossos cultos é uma coisa fora do comum. Todos os cultos são abertos ao público, inclusive os de Ceia. Qualquer membro pode pedir para testemunhar e/ou cantar no púlpito. Por mais que o nepotismo seja uma realidade reinante, qualquer obreiro, independente da origem, do grau de estudo, pode chegar ao ministério, posto que Deus chama quem quer. Adoradores levantam as mãos, falam línguas, ficam em pé, sorriem e choram na presença de Deus; as mulheres pregam, ensinam, regem, lideram, coordenam e oram por enfermos; negros e brancos - brasileiros ou não - se abraçam; ricos e pobres de todos os cantos do país congregam, comungam, cantam e vivem como irmãos, filhos de um mesmo Pai; crianças, jovens e adolescentes têm seu espaço e seus próprios congressos.

O púlpito assembleiano está mais maduro (ainda há distorções, é verdade), os pastores (nem todos, pois somos muitos) estão mais solidários com o rebanho, mais preparados para lidar com o sofrimento humano, com a cidadania, com as famílias, com as necessidades mais básicas, tanto do ponto de vista espiritual, social, bíblico-teológico, como legal e humanitário. Nossos obreiros, hoje, são melhores instruídos e mais "teológicos" (não é unanimidade, pois alguns ainda resistem) e nossos membros são mais tolerantes.

Claro que minha igreja não é perfeita. A Igreja perfeita é a triunfante, invisível e universal que habitará o Céu. Mas, enquanto instituição, organização e igreja militante, temos melhorado muito e isso ninguém pode negar. Temos problemas? Sim. Temos dificuldades com o novo? Sim. Mas quem não o tem?! Ainda há muito o que ser feito. E que bom que temos o que crescer e melhorar!

Infelizmente o conceito de liberdade de alguns pregadores de mídia beiram a libertinagem. Longe de ser uma denúnca, como pretendem alguns, trata-se de um convite, um aliciamento com "toque" evangelístico e esclarecedor. Dizem eles nas entrelinhas: "Se estiver insatisfeito aí, vem para cá. Aqui tem liberdade". A eloquência de um senhor que resolveu disparar contra o que ele chamou de "legalistas", é fruto do desespero que tomou conta de seu ministério, devido a queda nas entradas financeiras, por conta de um certo desvario ao pedir R$ 900,00 na TV e a reação contrária dos telespectadores às aspirações do tele-evangelista. O tiro saiu pela culatra!

Liberdade religiosa não se resume à observância dos usos e dos costumes. Podemos falar de liberdade de expressão, de igualdade, de acesso, de fraternidade nas igrejas e até liberdade para rejeitar heresias americanas importadas para nossos púlpitos. O assunto é polêmico. Não sou o dono da verdade. Todos têm o direito de discordar e de se manifestar através de comentários aqui ou em outros espaços. Sou cristão, sou livre. Sou evangélico assembleiano e não estou preso. Sou de Cristo, vivendo em plena liberdade. Minha liberdade não custou R$ 900,00. Eu poderia dizer, para soar moderninho, que minha liberdade "não tem preço", mas minha liberdade tem preço sim: O Preço do Sangue de Jesus!

Maranata. Ora Vem Senhor Jesus!
Deus abençoe a todos.

9 comentários:

J CLAUDEMIR AZEVEDO disse...

A Paz do Sr. Pastor Guedes.

Vira até Tautologia elogiar os seus posts, mas realmente esse tema é muito interessante.
Acredito que não podemos cometer o "erro" de comparar o evangelho da Igreja Primitiva com o evangelho do Século XXI, as mudanças que ocorreram no decorrer dos anos fez com que as pessoas mudassem, os hábitos mudassem, os costumes mudassem, tudo mudou. Não estou me referindo a Deus propriamente dito, pois sabemos que ele é IMUTAVEL (Mal 3:6).
Acontece que as igrejas também estão mudando, muitas que tinham doutrinas "rígidas" já estão fazendo vistas grossas para algumas coisas que estão a nossa frente, só não ver quem não quer. Por que não comentarmos das lutas de vale tudo dentro dos "templos", "Baladas Gospel" e por ai vai, tudo isso para alcançar os jovens.......
Acontece que hoje em cada esquina existe uma igreja, em sua grande maioria igrejas que buscam quantidade e não qualidade espiritual, quantos membros Assembleianos já trocaram de igreja por causa dessa “liberdade” existente em outras, quando me refiro à liberdade estou incluindo, usos e costumes, facilidades em ganhar cargo, etc...
Cito exemplo: Esses dias estava indo trabalhar ouvindo uma rádio evangélica, derrepente entra ao vivo na programação o Pastor Presidente de uma “grande denominação” para promover um debate ao vivo com o ouvinte, o tema do debate era: Por que não se tornar membro de nossa igreja” e citava repetidamente o nome e o endereço de sua igreja sede, o foco do debate era para que os convertidos saíssem de suas congregações e fossem para a dele, pergunto: Qual será o foco dessa igreja? Salvação de almas? Apenas quantidade de membros? Mídia e conseqüentemente Marketing?
Embora a minha igreja não seja perfeita e tenha “falhas” também sou Assembleiano. A primeira vez que entrei numa igreja, pela Misericórdia de DEUS, aceitei Jesus, isso há 10 anos (com 14 anos) em um salão super humilde (dirigida pelo meu amado PR. Leozé) onde não havia sequer grupo de jovens, mas nada disso nos impedia de fazer a obra.
Hoje estou casado (aliás, permita-me usar o seu blog para dizer a amo, é que ela também ler seus posts....rs rs) e servindo a Deus com minha família e somos felizes assim, amo minha igreja, tenho plena convicção de que ela não me salvará, Salvação é um dom gratuito ao indigno, ao que não merece, e todos nós estamos nesta categoria (Rm.6:23; Rm.5:6; Ef.2:8-9).

Deus continue lhe abençoando

José Claudemir
Ebenézer

Pastor Guedes disse...

Prezado Claudemir, a Paz do Senhor!

Fico muito feliz por sua visita e comentário porque sei que é honesto.

Independente de nossa amizade, percebo que suas palavras partiram de um coração sincero e muito lúcido quanto a nossa realidade de igreja.

Seu texto só veio enriquecer minha reflexão e o blog de um modo geral.

Achei ótima sua idéia de usar esse canal para fazer uma declaração de amor para sua esposa. Parabéns!!!

Deus abençoe você e sua casa.

Forte abraço.

Pastor Guedes disse...

Querido Alex,

Obrigado por suas palavras acerca do blog. Seu comentário me encoraja a continuar.

Também visitarei sua página.

Forte abraço.

Unknown disse...

PR.GUEDES
"To contigo e não abro"
Sabias palavras que me fizeram refleir muito sobre a Igreja Atual e seu estado "liberal".
Deus abençoe sua vida e continue postando aí que eu vou sendo edificado por cá.

Eduardo
www.advilacaiuba.blogspot.com

AdonesAlvesdeLima AlvesdeLima disse...

A paz do Sonhor Jesus Pr. Guedes
Estou feliz pelos excelentes textos extremamente atual.Continuo acomponhando o amado Pastor.Que Deus abençoi sua vida e de sua familhia.
Adones Alves

Pastor Guedes disse...

Prezado GETSÊMANI (Eduardo), a Paz do Senhor!

Obrigado pelas palavras elogiosas.

Vou visitar e deixar um comentário lá no "vilacaiuba", ok?

Forte abraço.

Pastor Guedes disse...

Prezado Adones, a Paz!

Obrigado por seguir esse humilde blog e fazer elogios aos posts desse pequeno servo de Deus. Sua amizade faz muito bem à minha alma!

Deus abençoe você e sua casa.

Forte abraço.

Diego Cosmo disse...

pow! massa o texto! sua analise da entrada da modernidade na igreja, é vero ainda bem q as coisas estao melhorando dentro das instituiçoes cristãs, mas ainda a muito trabalho pela frente e nesse caso só o tempo p mudar toda essa pele por completo, fico feliz em ver mais humanidade nas igrejas hoje e açoes mais embasadas no amor

vlww! um abraçoo

Fernando Mercurio disse...

Querido Pastor Guedes,

gostaria de aproveitar o tão abençoado artigo do irmão para enfatizar que as mudanças realmente estão acontecendo em nosso meio.

Aceitei a Cristo em nossa Sede na Lapa em um culto com a mocidade no dia 1º de Julho de 2000.
Fiquei afastado durante alguns períodos e sempre quando voltava como visitante, sentia a mudança que irmão nos tem falado.
Infelizmente alguns não souberam, ou não sabem, aproveitar tal mudança para o bem.
Eu graças a Deus, estou muito feliz de ter voltado e me firmado novamente, sabendo que posso contar muito mais com nossos pastores e amigos.
Hoje tenho a clara convicção que sou livre.

Graça e Paz sejam conosco até a eternidade!