
Lembro-me que no passado somente os membros participavam do culto de doutrina e somente os membros em comunhão podiam entrar no templo para tomarem a Ceia do Senhor. Apresentavam o cartão de membro com a assinatura do pastor confirmando sua permanência na comunhão com o corpo de Cristo, a Igreja. Vinham todos vestidos de branco. Era bonito. Também nas reuniões de oração não podiam entrar descrentes, nem o irmão disciplinado.
Nesses anos todos, assisti a maturidade da minha denominação rumo a uma visão mais equilibrada e próxima da Bíblia. Acredito que a globalização, a quebra de barreiras internacionais e a internet, que fez com que os pastores viajassem mais pelo mundo, e o intercâmbio com culturas como a americana, européia, africana e outras, fê-los refletir melhor sobre o assunto em questão.
Legalismo na Bíblia está vinculado à justificação pelas obras da Lei de Moisés. Os legalistas ou judaizantes ensinavam que além da fé em Cristo, os cristãos deveriam observar a circuncisão e a guarda do sábado (Carta aos Gálatas). Legalista, portanto, é aquele que se justifica pela Lei de Moisés ou busca obedecer aos 613 mandamentos apontados na Torá. Em nossos dias a expressão ganhou outra conotação nos lábios de líderes de denominações que não guardam esses bons preceitos.
O prezado leitor pode até ouvir alhures acerca de um pastor mais radical que disciplinou um membro por não guardar essas questões, mas o discurso da liderança atual não é esse. Hoje, em nosso mundo cada vez mais plural, a análise passa pelo ponto de vista da identidade denominacional, sem rejeitar a questão do pudor e da modéstia. Esses preceitos são bons se observados do prisma da piedade. Caso trate-se de obediência cega, por medo ou por imposição, perde a beleza de significado e riqueza emblemática. Os que os guardam somente por medo de perderem cargos e oportunidades nas igrejas estão fadados a viverem uma vida de mentira e hipocrisia. Portanto, devem ser observados por convicta vontade de viver piedosamente para agradar a Deus através da conduta interior e exterior. Explico: O uso dos vestidos, das saias, as chamadas vestes sociais e os rostos barbeados não representam santidade ou vida piedosa em si. Há pessoas que usam roupas de acordo com os bons costumes, mas infelizmente, trajam-se com demasiada sensualidade. Refiro-me às roupas curtas, decotes ousados e trajes tão apertados que mostram a silhueta do corpo e ressaltam as peças íntimas do vestuário masculino ou feminino. Essas revelam falta de pudor e despertam a libído de pessoas dentro e fora da igreja. Vestes caríssimas, que ostentam luxo e riqueza, também revelam um espírito, eu diria, pouco cristão, assoberbado, apartado da simplicidade que há em Cristo e dos primórdios da igreja: os primeiros discípulos e seus ensinamentos. Outros há que vestem-se adequadamente, mas vivem de modo dissoluto e mentiroso, com práticas imorais e inadequadas na igreja e na sociedade. Logo, a questão é mais profunda, tratando-se da observância da moralidade cristã.
Certa vez fui questionado acerca do assunto. Como percebi que o assunto era acerca de "doutrinamento", respondi que sou a favor da manutenção, mas que a observância deles não salvam. Acrescentei que a noção dos usos e costumes como garantia da salvação diminuiria o valor do sacrifício de Cristo na Cruz e que o conceito de não-observância vinculado à salvação levaria muitos outros cristãos à perdição eterna. Observei ainda que não temos o direito de condenar ao inferno os irmãos batistas, presbiterianos e outros porque não seguem esses princípios. Meu interlocutor não gostou muito da esposta, mas é a verdade que eu encontro na Bíblia Sagrada e defendo. Não condenamos os que não observam. Não evitamos os que pertencem a outras denominações. Recebemos bem em nossas congregações, apresentamos como irmãos em Cristo, mesmo os não-pentecostais, e os saudamos como irmãos com a Paz do Senhor.
A liberdade de expressão em nossos cultos é uma coisa fora do comum. Todos os cultos são abertos ao público, inclusive os de Ceia. Qualquer membro pode pedir para testemunhar e/ou cantar no púlpito. Por mais que o nepotismo seja uma realidade reinante, qualquer obreiro, independente da origem, do grau de estudo, pode chegar ao ministério, posto que Deus chama quem quer. Adoradores levantam as mãos, falam línguas, ficam em pé, sorriem e choram na presença de Deus; as mulheres pregam, ensinam, regem, lideram, coordenam e oram por enfermos; negros e brancos - brasileiros ou não - se abraçam; ricos e pobres de todos os cantos do país congregam, comungam, cantam e vivem como irmãos, filhos de um mesmo Pai; crianças, jovens e adolescentes têm seu espaço e seus próprios congressos.
O púlpito assembleiano está mais maduro (ainda há distorções, é verdade), os pastores (nem todos, pois somos muitos) estão mais solidários com o rebanho, mais preparados para lidar com o sofrimento humano, com a cidadania, com as famílias, com as necessidades mais básicas, tanto do ponto de vista espiritual, social, bíblico-teológico, como legal e humanitário. Nossos obreiros, hoje, são melhores instruídos e mais "teológicos" (não é unanimidade, pois alguns ainda resistem) e nossos membros são mais tolerantes.
Claro que minha igreja não é perfeita. A Igreja perfeita é a triunfante, invisível e universal que habitará o Céu. Mas, enquanto instituição, organização e igreja militante, temos melhorado muito e isso ninguém pode negar. Temos problemas? Sim. Temos dificuldades com o novo? Sim. Mas quem não o tem?! Ainda há muito o que ser feito. E que bom que temos o que crescer e melhorar!
Infelizmente o conceito de liberdade de alguns pregadores de mídia beiram a libertinagem. Longe de ser uma denúnca, como pretendem alguns, trata-se de um convite, um aliciamento com "toque" evangelístico e esclarecedor. Dizem eles nas entrelinhas: "Se estiver insatisfeito aí, vem para cá. Aqui tem liberdade". A eloquência de um senhor que resolveu disparar contra o que ele chamou de "legalistas", é fruto do desespero que tomou conta de seu ministério, devido a queda nas entradas financeiras, por conta de um certo desvario ao pedir R$ 900,00 na TV e a reação contrária dos telespectadores às aspirações do tele-evangelista. O tiro saiu pela culatra!
Liberdade religiosa não se resume à observância dos usos e dos costumes. Podemos falar de liberdade de expressão, de igualdade, de acesso, de fraternidade nas igrejas e até liberdade para rejeitar heresias americanas importadas para nossos púlpitos. O assunto é polêmico. Não sou o dono da verdade. Todos têm o direito de discordar e de se manifestar através de comentários aqui ou em outros espaços. Sou cristão, sou livre. Sou evangélico assembleiano e não estou preso. Sou de Cristo, vivendo em plena liberdade. Minha liberdade não custou R$ 900,00. Eu poderia dizer, para soar moderninho, que minha liberdade "não tem preço", mas minha liberdade tem preço sim: O Preço do Sangue de Jesus!
Maranata. Ora Vem Senhor Jesus!
Deus abençoe a todos.