terça-feira, 29 de março de 2011

A MORTE DO ISAÍAS E A TEOLOGIA DO GONDIM

Deus está no controle (Isaías 40.21-24)

Há pouco mais de uma semana, estive no velório de um jovem senhor. Já deveria ter escrito esse texto, mas por respeito à dor de sua família, resolvi aguardar. Com 26 anos de idade e casado havia apenas quatro meses, o filho do irmão Roberto, faleceu de modo trágico e inesperado. Foi grande a comoção em nossa igreja na Lapa. Por ocasião da cerimônia fúnebre percebi que o pai cantava os hinos e, fechando os olhos, levantava as mãos adorando a Deus. Em meio a dor, a família enlutada mesclava o silêncio angustiante com o louvor esperançoso de que um dia verão seu ente querido outra vez, como dizem as Escrituras, entregando tudo nas mãos de Deus.

Nesse ínterim deparei-me na internet, nos blogs de amigos, no twiter e em emails que me enviaram com os questionamentos do Sr. Ricardo Gondim, pastor da Assembleia de Deus Betesda, homem que aprendi a admirar no passado, justamente por sua defesa à ortodoxia cristã. Todavia, começo a notar que a insistência do referido pastor em criticar os pilares da fé ortodoxa, está indo além dos limites, uma vez que chegou mesmo a dizer que um Deus que intervém, mas que não pode fazer nada contra as tragédias humanas, não é um Deus, mas um demônio.

No Cemitério do Jaraguá pude ver pessoas simples, crentes comuns, que nunca ouviram falar de Clark Pinnock ou Teologia Relacional, Teologia do Processo, Ricardo Gondim ou René Kivtz, tampouco leram os argumentos da abertura do teísmo ou conhecem as obras de Calvino, Lutero ou Armínio. Todavia, cantavam ao Deus Soberano e louvavam a Deus sem perguntarem: “Por que Deus não pode evitar” ou “Onde estava Deus nessa hora?” ou ainda: “Deus poderia ou não evitar a morte do Isaías?” Um pastor amigo que ficou até o final, disse-me que, enquanto o corpo era sepultado pelos funcionários do cemitério, o pai fez um discurso emocionado e deu glória a Deus, citando Jó: “Deus deu e Deus tirou, bendito seja o nome do Senhor!”. Todos choravam, mas ninguém questionava se Deus podia ou não impedir, se estava ou não no controle, se estava na vida dele ou ao lado deles, a família.

Ricardo Gondim Rodrigues cai cada vez mais em meu conceito e no conceito dos evangélicos de um modo geral com suas heresias acerca da Soberania e Onisciência de Deus. Ora, senhor Gondim, chamar o Deus da ortodoxia, que o senhor tanto defendeu, de “demônio” é ir longe demais. Começo a creditar no que o senhor Caio Fábio falou recentemente em vídeo sobre sua bipolaridade (do Gondim): ora agindo (ou agia) de acordo com o "pentecostalismo adoecido" do Jimmy Swarggatt, ora como personagem que pretende figurar na elite pensante evangélica, inclusive defendendo a Verdade através da beleza estética na escrita. Disse mais o senhor Caio: “Ele pensa que pensa, mas é raso como uma praia sem águas”.

Não ignoro (como disse o reverendo Valdir do Espírito Santo, um amigo, que como eu, conheceu o Ricardo de outrora), que ele tenha se machucado na lida e esteja indignado com tudo que viu em igrejas ou convenções, mas nada justifica suas palavras insensatas e cegas. Deveria medir suas expressões ao se dirigir ao Deus que antes defendia. Holocaustos, tsunamis, tragédias nacionais ou individuais sempre existiram e ainda existirão, e podem se abater sobre  nós no Brasil ou sobre nossa família, porém isso não muda a minha convicção de que há um Deus Soberano que tem o controle sobre todas as coisas, que está escrevendo a história e não perde o controle por nada, apesar do Open Theism.

Oro para que o Deus Amoroso, o Pai Bondoso, Criador dos céus e da terra, Onipotente, Onisciente, Onipresente, Transcendente e Imanente, Infinito, Imutável, Eterno, Único Senhor Soberano, que tem o controle sobre todas as coisas nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, dê descanso ao Isaías, console a sua família e tenha misericórdia do Gondim, dando tempo para arrepender-se.

Maranata. Ora Vem Senhor Jesus!
Deus abençoe a todos. 

sexta-feira, 18 de março de 2011

UM NOVO DEUS NO MERCADO

Teologia Relacional: um novo deus no mercado

As ondas gigantes que provocaram a tremenda catástrofe na Ásia no final de dezembro de 2004 afetaram também os arraiais evangélicos, levantando perguntas acerca de Deus, seu caráter, seu poder, seu conhecimento, seus sentimentos e seu relacionamento com o mundo e as pessoas diante de tragédias como aquela. Dentre as diferentes respostas a essas perguntas, uma chama a atenção pela ousadia de suas afirmações: Deus sofreu muito com a tragédia e certamente não a havia determinado ou previsto; ele simplesmente não pôde evitá-la, pois Deus não conhece o futuro, não controla ou guia a história, e não tem poder para fazer aquilo que gostaria. Esta é a concepção de Deus defendida por um movimento teológico conhecido como teologia relacional, ou ainda, teísmo aberto ou teologia da abertura de Deus.
A teologia relacional, como movimento, teve início em décadas recentes, embora seus conceitos sejam bem antigos. Ela ganhou popularidade por meio de escritores norte-americanos como Greg Boyd, John Sanders e Clark Pinnock. No Brasil, estas idéias têm sido assimiladas e difundidas por alguns líderes evangélicos, às vezes de forma aberta e explícita.
A teologia relacional considera a concepção tradicional de Deus como inadequada, ultrapassada e insuficiente para explicar a realidade, especialmente catástrofes como o tsunami de dezembro de 2004, e se apresenta como uma nova visão sobre Deus e sua maneira de se relacionar com a criação. Seus pontos principais podem ser resumidos desta forma:
1. O atributo mais importante de Deus é o amor. Todos os demais estão subordinados a este. Isto significa que Deus é sensível e se comove com os dramas de suas criaturas.
2. Deus não é soberano. Só pode haver real relacionamento entre Deus e suas criaturas se estas tiverem, de fato, capacidade e liberdade para cooperarem ou contrariarem os desígnios últimos de Deus. Deus abriu mão de sua soberania para que isto ocorresse. Portanto, ele é incapaz de realizar tudo o que deseja, como impedir tragédias e erradicar o mal. Contudo, ele acaba se adequando às decisões humanas e, ao final, vai obter seus objetivos eternos, pois redesenha a história de acordo com estas decisões.
3. Deus ignora o futuro, pois ele vive no tempo, e não fora dele. Ele aprende com o passar do tempo. O futuro é determinado pela combinação do que Deus e suas criaturas decidem fazer. Neste sentido, o futuro inexiste, pois os seres humanos são absolutamente livres para decidir o que quiserem e Deus não sabe antecipadamente que decisão uma determinada pessoa haverá de tomar num determinado momento.
4. Deus se arrisca. Ao criar seres racionais livres, Deus estava se arriscando, pois não sabia qual seria a decisão dos anjos e de Adão e Eva. E continua a se arriscar diariamente. Deus corre riscos porque ama suas criaturas, respeita a liberdade delas e deseja relacionar-se com elas de forma significativa.
5. Deus é vulnerável. Ele é passível de sofrimento e de erros em seus conselhos e orientações. Em seu relacionamento com o homem, seus planos podem ser frustrados. Ele se frustra e expressa esta frustração quando os seres humanos não fazem o que ele gostaria.
6. Deus muda. Ele é imutável apenas em sua essência, mas muda de planos e até mesmo se arrepende de decisões tomadas. Ele muda de acordo com as decisões de suas criaturas, ao reagir a elas. Os textos bíblicos que falam do arrependimento de Deus não devem ser interpretados de forma figurada. Eles expressam o que realmente acontece com Deus.
Estes conceitos sobre Deus decorrem da lógica adotada pela teologia relacional quanto ao conceito da liberdade plena do homem, que é o ponto doutrinário central da sua estrutura, a sua “menina dos olhos”. De acordo com a teologia relacional, para que o homem tenha realmente pleno livre arbítrio suas decisões não podem sofrer qualquer tipo de influência externa ou interna. Portanto, Deus não pode ter decretado estas decisões e nem mesmo tê-las conhecido antecipadamente. Desta forma, a teologia relacional rejeita não somente o conceito de que Deus preordenou todas as coisas (calvinismo) como também o conceito de que Deus sabe todas as coisas antecipadamente (arminianismo tradicional). Neste sentido, o assunto deve ser entendido, não como uma discussão entre calvinistas e arminianos, mas destes dois contra a teologia relacional. Vários líderes calvinistas e arminianos no âmbito mundial têm considerado esta visão da teologia relacional como alheia ao cristianismo.
A teologia relacional traz um forte apelo a alguns evangélicos, pois diz que Deus está mais próximo de nós e se relaciona mais significativamente conosco do que tem sido apresentado pela teologia tradicional. Segundo os teólogos relacionais, o cristianismo histórico tem apresentado um Deus impassível, que não se sensibiliza com os dramas de suas criaturas. A teologia relacional, por sua vez, pretende apresentar um Deus mais humano, que constrói o futuro mediante o relacionamento com suas criaturas. Os seres humanos são, dessa forma, co-participantes com Deus na construção do futuro, podendo, na verdade, determiná-lo por suas atitudes.
Contudo, a teologia relacional não é novidade. Ela tem raízes em conceitos antigos de filósofos gregos, no socinianismo (que negava exatamente que Deus conhecia o futuro, pois atos livres não podem ser preditos) e especialmente em ideologias modernas, como a teologia do processo. O que ela tem de novo é que virou um movimento teológico composto de escritores e teólogos que se uniram em torno dos pontos comuns e estão dispostos a persuadir a igreja cristã a abandonar seu conceito tradicional de Deus e a convencê-la que esta “nova” visão de Deus é evangélica e bíblica.
Mesmo tendo surgido como uma reação a uma possível ênfase exagerada na impassividade e transcendência de Deus, a teologia relacional acaba sendo um problema para a igreja evangélica, especialmente em seu conceito sobre Deus. Embora os evangélicos tenham divergências profundas em algumas questões, reformados, arminianos, wesleyanos, pentecostais, tradicionais, neopentecostais e outros, todos concordam, no mínimo, que Deus conhece todas as coisas, que é onipotente e soberano. Entretanto, o Deus da teologia relacional é totalmente diferente daquele da teologia cristã. Não se pode afirmar que os adeptos da teologia relacional não são cristãos, mas que o conceito que eles têm de Deus é, no mínimo, estranho ao cristianismo histórico.
Ao declarar que o atributo mais importante de Deus é o amor, a teologia relacional perde o equilíbrio entre as qualidades de Deus apresentadas na Bíblia, dentre as quais o amor é apenas uma delas. Ao dizer que Deus ignora o futuro, é vulnerável e mutável, deixa sem explicação adequada dezenas de passagens bíblicas que falam da soberania, do senhorio, da onipotência e da onisciência de Deus (Is 46.10a; Jó 28; Jó 42.2; Sl 90; Sl 139; Rm 8.29; Ef 1; Tg 1.17; Ml 3.6; Gn 17.1 etc). Ao dizer que Deus não sabia qual a decisão de Adão e Eva no Éden, e que mesmo assim arriscou-se em criá-los com livre arbítrio, a teologia relacional o transforma num ser irresponsável. Ao falar do homem como co-construtor de Deus de um futuro que inexiste, a teologia relacional esquece tudo o que a Bíblia ensina sobre a queda e a corrupção do homem. Ao fim, parece-nos que na tentativa extrema de resguardar a plena liberdade do arbítrio humano, a teologia relacional está disposta a sacrificar a divindade de Deus. Ao limitar sua soberania e seu pleno conhecimento, entroniza o homem livre, todo-poderoso, no trono do universo, e desta forma, deixa-nos o desespero como única alternativa diante das tragédias e catástrofes deste mundo e o ceticismo como única atitude diante da realidade do mal no universo, roubando-nos o final feliz prometido na Bíblia. Pois, afinal, poderá este Deus ignorante, fraco, mutável, vulnerável e limitado cumprir tudo o que prometeu?
Com certeza a visão tradicional de Deus adotada pelo cristianismo histórico por séculos não é capaz de responder exaustivamente a todos os questionamentos sobre o ser e os planos de Deus. Ela própria é a primeira a admitir este ponto. Contudo, é preferível permanecer com perguntas não respondidas a aceitar respostas que contrariem conceitos claros das Escrituras. Como já havia declarado Jó há milênios (42.2,3): “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; cousas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia.”
Fonte: Revista Ultimato